Quando não está trabalhando como baterista do Paramore, Zac Farro continua com seus experimentos eletrônicos com a Halfnoise, soando mais maduro agora do que em qualquer outro momento.

Aos 26 anos, Zac já passou por muitas coisas em sua vida. Depois de ter formado uma das bandas de pop punk de maior sucesso da era “MySpace”, juntamente com seu irmão, a vocalista Hayley Williams, o baixista Jeremy davis e o guitarrista Taylor York, ele viveu basicamente em vans da banda e em hotéis na estrada, conforme o Paramore explodia em popularidade pelo mundo.

No final de 2010, Farro e seu irmão saíram da banda de maneira dramática, quando Josh publicou um amargo texto, acusando Hayley Williams de tratar o Paramore como seu projeto solo. Logo depois, Zac voltou à música com a Halfnoise, um pequeno projeto de música, e com a Novel American, uma banda de rock formada assim que os Farro deixaram o Paramore. Enquanto a Novel American fracassou rapidamente, uma vez que a banda não conseguia arrumar um vocalista que se adequasse, a Halfnoise cresceu lentamente dentro da criatividade de Zac.

Agora, após uma jornada em busca de sua própria alma para a Nova Zelândia, dois álbuns completos, bem como dois EPs lançados com a Halfnoise, Farro parece estar apenas começando. Tendo voltado oficialmente ao Paramore, ele diz que não tem intenção de abandonar seu projeto indie, vendo isso como seu espaço criativo e seguro do qual ele precisou por muito tempo. Seu último lançamento, o EP “The Velvet Face”, continua na onda eletro-pop que “Sudden Feeling” (2016) obteve, o qual foi parar na lista de “Melhores Álbuns Pop de 2016” no PopMatters.

Recentemente, Farro se encontrou com o PopMatters para falar sobre seu novo EP, sua antiga (e agora atual) banda, e muito, muito mais.

Originalmente, você pensou na Halfnoise como um projeto rejuvenescedor? O fato de ter feito algo totalmente diferente daquilo que você fazia musicalmente para a Novel American e para o Paramore serviu como uma maneira de “descansar”?

Para ser sincero, eu sei que isso não parece ser uma boa resposta, mas realmente não houve um plano. Eu não tinha muita certeza sobre o que ia fazer da minha vida, pra não mencionar o fato de que eu poderia nunca mais fazer música, então eu meio que acabei começando a escrever, me dei uma chance para cantar e essas coisas. Meu amigo Dan, com o qual eu acabei de gravar o EP, foi quem gravou minhas primeiras demos e meu primeiro álbum. Ele dizia “Ei, cara, estou começando a produzir umas coisas e se você for escrever músicas, eu adoraria produzí-las.”. Eu realmente não tinha a intenção de tornar a Halfnoise em algo concreto, pois eu apenas estava gostando do processo de composição. E então chegou em um ponto onde ele disse “Vamos gravar algumas coisas”, o que foi seguido por outros amigos de Nashville, que começaram com “Precisamos de uma banda de abertura para nossa turnê”. Eu apenas dizia “De maneira alguma que eu vou cantar em frente à um público, eu nunca cantei na frente de ninguém, não vou fazer isso.”.

É algo incrível, pois eles me deram a oportunidade e me motivaram para que eu pudesse estar onde estou agora. Cantar e performar é algo que eu amo e jamais pensei que eu faria isso. Não tinha a intenção de deixar o Paramore, nem a intenção de deixar a American Novel, pra apostar em algo como “Ah, eu vou fazer essa banda aqui que é muito diferente.”. Eu apenas comecei a escrever naturalmente o que eu sentia e isso acabou sendo ótimo.

Então você não foi para um lado completamente oposto do universo musical por estar chateado, certo?

Com certeza havia uma parte de mim que queria tentar alguma outra coisa que não fosse o que eu já vinha fazendo por toda a minha vida. Sabe, estar numa banda de rock era incrível, mas eu definitivamente queria tentar algo a mais, porque, especialmente naquele momento, eu estava ouvindo muito Radiohead, Sigur Ros, músicas mais etéreas e de ambiente mesmo. Eu queria ver como me sairia com coisas que eu estava ouvindo naquele momento, mas eu não estava pensando em algo como “Ah, eu preciso fazer algo realmente diferente”. Não foi um desejo consciente de me distanciar disso.

A parte legal sobre a Halfnoise é que ela se mantém exatamente como eu queria que fosse e, se as pessoas gostam disso ou não, ainda assim tem sido um lugar realmente seguro para que eu possa escrever música e explorar. Tem sido uma experiência muito legal e criativa pra mim. Você sabe que eu sempre tentei manter isso dessa forma. Então é realmente incrível que alguém queira me ouvir falar sobre isso, ou mesmo que alguém queira ouvir algo relacionado. E não é a maior diversão do mundo todos os dias, é como um trabalho normal, você fica cansado, mas eu faço isso genuinamente, porque eu vivo para fazer música.

Eu estava falando com o pessoal do Paramore esses dias e pensei “O que faríamos se não existisse a música?”. Eu seria, literalmente, a pessoa mais chata de todas, não existiria um propósito em minha vida. A música me deu direção e propósito e eu não consigo me ver fazendo outra coisa. Então, bem, desculpe por ter entrado nessa retórica apaixonada aqui.

Você cresceu já acostumado com a liderança? Foi uma transição estranha?

Isso deu um pouco errado; inicialmente eu estava muito assustado, porque é muito estranho sair de uma zona de conforto como baterista. Porque você tem que tocar em muitos shows, talvez um dia, quando não estiver se sentindo bem, pode se esconder lá atrás, baixar a cabeça e apenas tocar bateria. Mas quando canta, você tem que ser quem você realmente é, tem que fazer isso toda noite, precisa liderar, e cantar é muito diferente de tocar um instrumento, então definitivamente foi um grande aprendizado para mim, pois cresci tocando bateria, conheço isso como a palma da minha mão, mas estou amando essa nova fase.

Você fala muito sobre a Nova Zelândia ser parte do que você é como pessoa, o quê em particular te levou ao país?

Sinceramente, eu viajei até lá e tudo aconteceu nesse momento perfeito da minha vida. Eu não sabia quem era até ir a este país. Não é como se eu estivesse diferente,  apenas usei este tempo para crescer e, as vezes, isso acontece quando você está longe de casa. Esse crescimento aconteceu ao me mudar para um dos lugares mais distantes do mundo. Eu achava aquilo muito interessante naquele ponto. O modo de vida, a cultura, o humor, tudo parecia estar super conectado com o que eu amo.  As paisagens… o cenário é insano.

Eu conheci pessoas com as quais não tinha nenhuma história, porque, você sabe, ao andar em Nashville as pessoas reagem da seguinte forma “Ah você é um Farro, conheço seus irmãos” ou “eu conheço seus pais” e coisas  do tipo. E isso não é ruim, mas você se sente colocado dentro de uma caixa e eu sentia que dessa forma não poderia seguir em frente. Eu vivi esses anos incríveis da minha vida em um lugar onde as pessoas estavam me conhecendo pela primeira vez e eu poderia ser quem eu quisesse. Não quero dizer que estou muito diferente agora, mas foi uma fase muito legal e eu sou muito grato por ter feito isso. Mudou, não só a minha vida, mas a definiu, como se fosse desse jeito que gostaria de ser pra sempre.

Pode soar dramático, mas me ajudou muito e é um dos melhores lugares do mundo. Eu aprendi a surfar, vivi em uma van, fiz alguns dos melhores amigos que tenho, ri o máximo que podia, e isso tudo faz parte do que sou hoje. E teve outra coisa, foi lá que descobri que amo fazer parte da Halfnoise. Ante eu estava dando um passo adiante e outro atrás, como se não tivesse me dedicando completamente à isso. Pensei que não conseguiria continuar.

É verdade que Volcano Crowe foi gravado no topo de um vulcão?

A história não foi tão elaborada assim, nós não gravamos em um único estúdio, foram em três casas diferentes e uma delas era atrás do Monte Raupehu, um dos maiores vulcões ativos da Nova Zelândia.

Não há mais erupções, não como nos anos 80. Nós estivemos lá quando estava completamente coberto de neve e foi a primeira semana de gravação, onde fiquei com a família Crowe. O álbum é sobre mudança, deixar para trás e seguir em frente, como esta transição que a Nova Zelândia me proporcionou, então eu nomeei o álbum como Volcano Crowe, em referência à família e a mim como se fosse o vulcão. Não havia pensado dessa forma antes, mas foi exatamente como aconteceu. Eu acho que nunca disse isso para outra pessoa.

Foi incrível: em uma semana nós gravamos em uma casa de praia, que era de frente para o mar e feita de containers. Já viu essas casas modernas feitas de container? Então, era toda de vidro e, como a praia no inverno, não tinha ninguém ao redor, só nós três, foi demais!

De volta ao Sudden Feeling, parece que você está se afastando do som indie de Volcano Crowe e mergulhando nas raízes da música pop. Você sempre foi fã desse estilo retrô ou é só uma obsessão recente?

Eu definitivamente acredito que descobri isso na Nova Zelândia, mas sempre gostei muito de indie rock e acho que o álbum Volcano Crowe foi inspirado pelo pop clássico, como The Beatles. É isso que eu vejo. E, ao gravar Sudden Feeling, estava ouvindo muito The Beatles e Talking Heads, o som dos anos 80 do New Order, esse tipo de bateria. Acho que parti disso, pois até mesmo o material novo, o EP The Velvet Face, tem influências de The Beatles, Velvet Underground, e The Kinks. Mas sempre gostei disso. Todos os meus filmes preferidos são do Wes Anderson, que sempre são muito relacionados com música.

Você disse que ama fotografia e eu gostaria de perguntar sobre sua estreia como diretor. O clipe de French Class foi sua primeira direção?

Sim, foi o primeiro que dirigi. Ajudei na direção de “Know The Feeling”, o primeiro clipe que fizemos para o álbum Sudden Feeling. Foi muito diferente, me senti um pouco nervoso, pois não havia feito isso antes e não sei nada sobre terminologia de filmagem e todas as palavras que as pessoas usam, então estava com receio de que pessoas que estavam trabalhando comigo não concordassem com o que fosse produzido. É como quando você vai ao estúdio e pensa “nós deveríamos usar esse microfone ou aquele” e as pessoas que não fazem música apenas pensam “o que diabos você está falando?”. Eu não sabia nada sobre aquilo, mas sabia o que queria. E ao meu amigo Tony, o cara que aparece de patins no clipe, apenas tive que dizer o que queria que aparecesse e ele o fez. Eu gostaria de fazer isso novamente. Normalmente eu fotografo, não faço nada cinematográfico, mas eu tento fazer tudo pelo menos uma vez.

Você mencionou Wes Anderson. Eu gostaria de saber quais outros diretores te inspiram.

O lance com o Wes Anderson é mais sobre o humor dele e sua estética. Mas eu realmente gosto de Richard Linklater, o cara que fez Dazed and Confused e Everybody Wants Some!. Ele produziu Boyhood também. Gosto de como ele toma uma parte do tempo e expande-o em um filme inteiro. Como Dazed e Confused acontece no último dia da escola, então o filme inteiro é apenas um dia. Em Boyhood eles tiveram que gravar mais de 12 anos, o que é uma loucura, mas isso é tipo como eu gosto de escrever música também. Eu tento colocar tudo em um dia e isso é como uma música, então realmente me identifico, mas em termos de estética… Wes Anderson definitivamente me ganha.

Você já pensou em produzir vídeos ou sempre foi seu único departamento criativo?

Isso realmente seria legal de fazer. Quero dizer, vídeos são legais, mas eu sou prefiro a fotografia. Acho que teria uma tendência maior para trabalhar em trilhas sonoras de filmes e isso seria incrível.

Foi estranho recomeçar uma fanbase com a Halfnoise? Como os fãs antigos tem reagido?

Você sabe, muitas pessoas estavam dizendo “Hmmm, não sabia que o Zac cantava… não sabia que o Zac podia fazer música”, mas mesmo que não seja o estilo de música deles, pois é definitivamente muito diferente de Paramore, ainda vão aos shows, sempre são muito legais e nos apoiam. Eu odeio quando as pessoas abandonam suas bandas, fazem uma nova, com um som praticamente igual ao que costumavam a tocar, mas não é tão boa. É como se você tivesse que ter ficado na banda que estava e fazer melhor, quero dizer, não é tão fácil assim, mas eu fiquei entusiasmado por soar diferente, pois não era como “wow, ele apenas quer fazer o som do Paramore, mas não estar na banda”, todo mundo está sendo bem receptivo.

Desde que voltou a se apresentar em casas pequenas, depois de uma trajetória em grandes estádios, qual você diria que prefere?

As duas opções são legais por diferentes motivos. Não há nada como tocar para muitas pessoas em festivais, mas também é muito legal a intimidade que rola nos locais menores. Mas, claro, ambas experiências são incríveis. Para a Halfnoise é ótimo tocar em lugares pequenos.

Você viaja e sai em turnê desde que tinha 13 anos, há algum outro lugar que você se conecta tanto quanto com a Nova Zelândia?

Eu comecei a gostar muito de LA. Los Angeles se tornou um lugar muito legal pra mim. Eu gravei Sudden Feeling lá e essa última viagem ao Reino Unido, especialmente em Leeds, foi demais. Também curti o tempo que estive em Paris, que quase pareceu como uma outra Nova Zelândia, por causa das pessoas que conheci lá. Definitivamente quero gravar o próximo álbum da Halfnoise lá. Me sinto muito conectado com a velha música francesa também e, nossa, você precisa ouvir a playlist pop francesa no Spotify, é muito legal e viciante.

Como é o seu relacionamento com Nashville?

É complicado. Em LA eu me sinto como “definitivamente poderia me mudar pra cá”, e então chego em casa e sinto como se não pudesse ir embora de novo. Há muitas pessoas que gosto lá e uma das minhas atividades preferidas é sair com elas e estar perto delas. Em Nashville é difícil alcançar isso, porque quase todo mundo está envolvido com a música e têm o mesmo cronograma. Na Nova Zelândia todo mundo tem empregos de verdade, então você não pode sair o tempo todo. Então Nashville sempre será esse lar, que muitas vezes parece pequeno, como se tivesse limites. É, na verdade, um lugar muito pequeno, mas eu o amo. É como um membro da família e foi desse jeito durante minha vida inteira.

Você pensa em promover a Halfnoise um status de banda completa, contratando pessoas para trabalhar nisso em período integral, ou apenas irá continuar como um pequeno projeto solo?

Bem, penso nisso o tempo todo. É difícil, pois não só estou tocando no Paramore, mas também tenho toda aquela função de turnê novamente. A única coisa que me afasta disso é o fato de querer ter liberdade criativa, então quero continuar este projeto como solo. Eu e meu produtor tocamos quase todos os instrumentos, então, embora tenha grandes amigos tocando comigo, não há real necessidade de ter mais alguém no processo criativo. Quero preservar esse espaço seguro que criei. Ter outras pessoas nisso tornaria o projeto diferente do objetivo inicial e não é o que desejo.

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