A Pitchfork trouxe uma interessante análise de como o Paramore – e especialmente sua líder, Hayley Williams – inspiraram a musicalidade de várias artistas dessa geração, desde Olivia Rodrigo a Willow Smith.
A matéria completa e traduzida está disponível abaixo:
Em sua encantadora canção “Favorite Band”, a cantora e compositora Chloe Moriondo tem uma epifania. Por que, ela se pergunta, está perdendo seu tempo com um estraga-prazeres quando ela poderia estar “em casa com meus fones de ouvido e com Paramore”. Depois, com desejo em sua voz, torna a sua lealdade ainda mais clara: “e Hayley me prende / de uma forma como você nunca fez”.
Desde o início da era Riot!, em 2007, Paramore, liderada por Hayley Williams, tem consistentemente usado uma combinação de honestidade emocional, otimismo e solos de guitarra através do mundo isolado da angústia adolescente. Alguns anos atrás, o som e o espírito da banda incentivaram grupos indie como Snail Mail e Soccer Mommy a usar suas guitarras. O rapper Lil Uzi Vert uma vez se referiu a Williams como “o melhor… da minha geração”. Agora, Paramore influencia um novo grupo de artistas navegando na turbulência da juventude, quando cada desgosto e revés pode ser apocalíptico. Além de Moriondo, o som e o rosnado da banda podem ser ouvidos no alegre dedo médio que é o hit n.º 1 de Olivia Rodrigo, “good 4 u”, no tema quente thrash da “Transparent Soul”, de Willow Smith, no êxtase diário de girl in red, em “Serotonin”, e nas cáusticas reviradas de olho de Billie Eilish. O fato de que estas artistas tinham em média de 5 anos e meio quando Riot! foi lançado apenas ressalta o poder remanescente de Paramore — e o papel de Williams como uma sábia chefe de escoteiros do pop-punk.
Conforme o som de Paramore ia do mall-punk ao New Wave, suas canções sempre ofereceram aos ouvintes a coragem de se referir a qualquer um que faz você se sentir para baixo. Esta atitude provavelmente nasceu da necessidade: Williams chegou à maioridade como a rara figura feminina em uma cena emo dominada por homens, cheia de misoginia evidente e violência sexual, forçada a construir um duro casulo em torno de si mesma. “A raiva foi minha mediadora durante muito tempo”, disse Williams a Vulture no ano passado. “Quando abordamos o que está por baixo dessa raiva, é muito assustador”. Agora com 32 anos, a mulher que uma vez declarou que “segundas chances não importam, as pessoas nunca mudam” está priorizando suavidade, aceitação e resiliência, como foi ouvido em seus dois álbuns solo lançados recentemente.
Neste ponto, o Arco de Williams oferece tanto fábulas indutivas como um plano para as jovens que aspiram a entrar em uma indústria musical que evoluiu ao longo dos últimos 15 anos, mas ainda é atormentada por um duplo padrão sexista. Williams, depois de ser a única garota em turnê por tanto tempo, fez questão de convidar artistas mulheres e LGBTQ+, incluindo Jay Som e Julien Baker para se juntarem a estrada com a Paramore.
Além de questões de representatividade, Williams também tem sido honesta sobre a sua experiência na indústria e as formas como crescemos e mudamos como seres humanos. Quando Billie Eilish divulgou “Your Power”, balada descrita pela cantora de 19 anos para a Vogue britânica como “uma carta aberta para as pessoas que se aproveitam da autoridade — principalmente os homens”, Williams ofereceu uma nota de apoio. “quem me dera ter ouvido a nova canção da billie quando tinha 19 anos”, ela tuitou. “poderosa mensagem de uma jovem brilhantemente talentosa sobre o aliciamento que ocorre todos os dias, especialmente dentro das indústrias criativas. e ela fala com graça. enfim, a música é o máximo”.
Muitos dessas jovens artistas estão começando suas carreiras a partir de um lugar de relativa vulnerabilidade que simplesmente não estava disponível para Williams, que uma vez comparou tocar na Warped Tour a ser “jogada aos lobos”. A cantora e compositora norueguesa Marie Ulven, também conhecida como girl in red, e Moriondo investigam os detalhes íntimos de suas vidas — sexualidade, saúde mental e decepções amorosas — com uma serena franqueza. Em “Serotonin”, girl in red salta entre ruídos vacilantes e sintetizadores brilhantes, tudo ao descrever os pensamentos intrusivos dos quais ela tenta se desvencilhar. O recente álbum de Moriondo, Blood Bunny, lançado através da gravadora de longa data de Paramore, Fueled by Ramen, inclui explosões de pop-punk e uma pequena canção cativante chamada “I Eat Boys”. “É, os deixo ensanguentados”, Moriondo canta. “Você não pode me controlar, porque escrevi esta história”. Parece que mais uma canção de Williams pode ter lhe dado consolo na adolescência.
A família escolhida sempre foi uma ideia fundamental por trás do Paramore: a própria banda se formou em meio à fratura da própria unidade familiar de Williams, que falou sobre a luta para manter o grupo unido através de inúmeras mudanças de formação. A insistência obstinada de Williams em encontrar a comunidade através da música é uma razão pela qual a música de Paramore representa um abrigo para os rejeitados. Willow recentemente revelou que ela foi intimidada na escola por ouvir Paramore e My Chemical Romance, crueldade que foi exacerbada pela brancura esmagadora da cena emo (há muitas grandes obras sobre a relação especial entre Paramore e seus fãs negros, que apontam a importância da banda para a comunidade, a fé e a política de identidade progressista). Willow continuou a dizer que ela espera que sua presença como uma jovem negra tocando música com guitarras barulhentas seja um farol para qualquer um que se sinta excluído pelo emo ou pelo hard rock: “é real, você não está sozinho. Você não é a única menina negra que deseja poder virar o cabelo para o lado e usar delineador preto”.
A evolução de Paramore e sua influência talvez possa ser melhor ouvida em “good 4 u”, de Olivia Rodrigo. A canção evoca fortemente o hit de Paramore de 2007, “Misery Business”, que Williams co-escreveu aos 17 anos. Em 2018, porém, a banda anunciou que não iria mais tocar a música ao vivo devido ao seu sexismo internalizado: com linhas como “uma vez uma piranha, sempre piranha”, reflete uma mentalidade de uma cena (e a cultura) na qual o slut-shaming e a rivalidade feminina estava em voga. Mas enquanto “Misery Business” aponta seu veneno para a garota que Williams acredita ter roubado seu namorado, “good 4 u” coloca a culpa no cara que facilmente superou o relacionamento. Quando Rodrigo canta, “que se dane isso e que se dane você / você nunca terá que se machucar da maneira que eu me machuquei”, está se dirigindo diretamente à pessoa que partiu o seu coração, e não criando mais danos colaterais.
“Espero que o que quer que eu faça, se eu fizer alguma coisa nesta vida, impacte alguém, especialmente meninas jovens, de alguma forma”, disse Williams uma vez. Agora, mais do que nunca, essa ambição floresce.
Tradução por Rita Nogueira
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