Desde o começo da divulgação de seu projeto, Hayley Williams vem lançando pequenas pistas – bem misteriosas – para dar ideia do que devíamos esperar. Foram pinceladas de trechos de música, palavras-chave e referências conceituais. E ela não entregou absolutamente nada que fugisse desse contexto: Petals For Armor é Hayley Williams nua e crua.
E é exatamente o tipo de som que os fãs de longa data vêm esperando há alguns anos. Não é como alguns singles de Paramore, que tomam formas diferentes ao longo das tracks. É sólido. É maduro. É decidido.
De forma mais orgânica, a música brinca com um instrumental firme e envolvente, com marcações entre a bateria e o baixo, incitando a sensação de batimentos cardíacos. A bateria foi trabalhada com timbres diferentes em notas-fantasmas, que dá muito valor rítmico ao som, mas sem perder a leveza e densidade.
Os vocais, diferentes de tudo que ela já fez, exploram diferentes nuances a cada verso da música com bastante dinamismo e maturidade. Sussurros e suspiros contínuos dão o recado “gotta simmer down/preciso me acalmar” que mais parecem vozes constantes na cabeça de Hayley, nos aproximando de uma experiência real do que seria estar em sua pele.
“Criar isso foi uma experiência assustadora e fortalecedora. Alguns dos meus momentos de maior orgulho como compositora aconteceram enquanto escrevia Petals for Armor. E pude deixar minhas mãos um pouco mais sujas do que o normal quando se trata de instrumentação”, conta.
A letra não esconde ou suaviza a intensidade e “negatividade” dessa experiência. No primeiro single, ela se permitiu verbalizar sem amarras o que viveu e têm descoberto em sua jornada de autoconhecimento.
Seja na música ou no clipe, Hayley literalmente se despiu das crenças limitantes que a mídia, popularidade e relacionamentos impuseram sobre sua carreira e vida pessoal para finalmente se libertar e mostrar ao mundo a autenticidade da artista que adormecia sob a manta do medo e negação. É a transformação de uma fase que mais pareceu um pesadelo.
O vídeo conta essa história com uma entonação do gênero de terror psicológico, com referências a visuais e de roteiro de The Handmaid’s Tale, Mother e Hereditary. Hayley foge de um monstro invisível que a persegue em seu momento mais vulnerável, representado pela nudez.
Seu cabelo dividido entre loiro e castanho representam bem/mal, puro/impuro, a sua noção de si mesma e seu inimigo interior. Ao encontrar um refúgio, a casa, ela dá de cara com uma corda em nó de forca, que contrasta e exprime os pensamentos suicidas que a vocalista teve em 2017.
Em seguida, o quarto que a espera de portas abertas é seu santuário, onde ela inicia um ritual de conexão com a sua essência. Seu principal medo está logo atrás dela e é a si mesma tentando tirar sua própria vida. Sua versão que conquistou a libertação se empodera a ponto de ganhar coragem para enfrentar esses medos. Acabando com aquilo que ela mais temia, ela encontra com seu inimigo mais profundo: a si mesma em um estado de transtorno. Uma história de expressão e alusão às condições reais da vida humana, ao que devemos extrair força e razão de viver.
Em entrevista à BBC, Hayley afirma que Petals For Armor é o título que resume a sua atual filosofia de vida: “A maior forma de proteção é aceitar sua vulnerabilidade e dar ouvidos tanto ao sofrimento quanto à felicidade. Ser flexível para deixar os sentimentos entrarem e saírem é a melhor forma de sobreviver ao mundo de uma maneira mais fácil, ao invés de ser durona e manter meus punhos pra cima o tempo todo.”.
Simmer é o tipo de música para se ouvir de olhos fechados, com fones de ouvido no último volume, enquanto se deixa levar pelas diferentes sensações que ela causa. É a versão sonora de uma poesia sombria, que entra pelos ouvidos, e caminha pelas suas veias até deixar uma mensagem visceral e inesquecível.
Texto por: Ana Paula Figueroa
Assista ao vídeo legendado da primeira entrevista de Hayley Williams sobre o processo de criação de Simmer e do álbum Petals for Armor!
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