Com o encerramento da era After Laughter, Hayley Williams tem dado entrevistas para os mais importantes portais de notícia de Nashville, e conversou ontem com a revista No Country sobre o significado dos dois últimos anos para a banda e sobre o que vem depois do festival Art + Friends.
Confira abaixo a tradução:
Nesta sexta, no auditório municipal, o Paramore vai promover uma celebração da música alternativa e da cena artística de Nashville, com excelentes convidados especiais como o Bully e o Coin, assim como uma variedade de artistas visuais locais, pequenas empresas, organizações de caridade e mais. Nomeado Art + Friends, o mini festival é não apenas uma carta de amor para a terra natal que eles claramente adoram, mas também uma forma da banda mais celebrada e gigantesco nome de Nashville encerrar uma montanha russa triunfante de dois anos de gravação do fenomenal, profundamente pessoal, álbum do ano passado, After Laughter.
Antes do Art + Friends, conversamos com a vocalista do Paramore, Hayley Williams, sobre os shows, a difícil jornada do After Laughter – e como tudo isso parece agora, examinando a responsabilidade e a vulnerabilidade de trabalhar através de problemas pessoais expostos publicamente – , e, é claro, sobre o amor dela por Nashville e o conforto do lar.
Não muito tempo atrás, Hayley questionava se o Paramore conseguiria, ou deveria, continuar. Enquanto o ciclo do álbum homônimo de 2013 encerrava, a banda se tornou uma dupla, sobrecarregada e abatida por conflitos pessoais e profissionais, um peso que fez com que o Paramore parecesse ser insustentável. Mas, em vez de uma grande proclamação de separação, Williams e o companheiro de banda Taylor York sabiamente escolheram passar despercebidos e reagrupar, York seguindo em frente com ideias que, devagar e sempre, se conectaram com Williams e começaram a trazer vida ao After Laughter.
Trabalhando novamente com Justin Meldal-Johnsen, que produziu o Paramore, ao lado de York, o After Laughter se tornou um marco histórico para o grupo, com seu primeiro álbum criado por inteiro em casa, desde as sessões de composição até as gravações no RCA Studio B. Foi essa conexão com Nashville, parece, junto à reunião com o membro fundador e baterista Zac Farro – que originalmente saiu da banda em 2010 e retornou primeiramente para ajudar nas gravações e depois como membro-completo, no começo do ano passado – , que ajudou o Paramore a reencontrar sua identidade e paixão, se desligando de todo o drama e das expectativas e aspirações comerciais para simplesmente voltar a fazer músicas honestas ao lado de amigos, em casa, e para a apreciação das pessoas de quem eles gostam.
Encerrar uma turnê que viu a banda atravessar o globo com um show em casa parece a única conclusão possível, principalmente porque as turnês começaram com um show surpresa no Exit/In na primavera passada (e incluíram paradas no The Ryman, Bonnaroo, e até mesmo o The End). “Eu sinto isso em mais áreas da minha vida agora, essa conexão com a comunidade. Foi por isso que sentimos que precisávamos fazer algo em um lugar que tivesse uma participação gigantesca nessa história, e esse lugar é Nashville,” Williams explica, “Eu acho que o Art + Friends vai estar pingando sentimentos e eu provavelmente irei chorar, porque eu choro o tempo todo. Mas eu não quero me esquecer disso, eu quero permanecer consciente enquanto tudo estiver acontecendo.”
Apesar de ter residido na área (inicialmente em Franklin, onde o Paramore se formou) desde sua adolescência, Hayley foi uma musicista profissional na maior parte de sua vida, frequentemente caindo na estrada ou viajando para longe, se sentindo menos inclusa na cena local. Mais recentemente, ela fez um esforço para se reconectar, frequentando pequenos shows e galerias de arte, boutiques locais e seus locais favoritos, experienciando Nashville como qualquer outra pessoa artística de 20 anos. Ela se lembra de quando foi ao seu primeiro show em muitos anos, no verão passado, para o lançamento de um álbum de fotos de sua amiga, se lembrando também de um antigo espaço punk chamado “The Gingerbread House”, onde ela costumava a ver shows quase uma década atrás. “Eu me sinto muito feliz por pessoas mais jovens,” ela conta, descrevendo a reformada casa de shows, “Há muito coração. Todo mundo quer fazer as coisas da forma correta. Tem muita arte boa acontecendo em Nashville, e isso é incrível.”
Às vezes é fácil esquecer que o Paramore já ganhou um Grammy, conseguiu placas de platina por seus álbuns, atingiu o topo de charts e é, inegavelmente, uma banda famosa mundialmente. Eles não parecem ligar ou aspirar por isso, e certamente não é algo que eles saem falando por aí. Não é incomum que artistas com conquistas similares mudem, se preocupem mais com fama e sucesso e percam a conexão com a comunidade e o estilo de vida que ajudaram a formar sua arte em primeiro lugar. Isso não poderia estar mais distante da discreta vida de Williams e de seus companheiros de banda; eles continuam a ser fãs, e continuam vendo shows de todos os tamanhos para procurar novos talentos, uma qualidade, acredito, que é essencial para manter artistas estabilizados inovativos e relevantes na criação de suas músicas.
Williams parece concordar. “Eu me pergunto se isso faz com que você sinta que sabe de tudo, como se não tivesse mais nada para aprender ou descobrir”, ela reflete, sobre o prospecto de perder a conexão com os novos estilos de música, “isso me mantém jovem. Eu sei que não sou velha, mas como comecei a ir a shows aos 13 anos de idade, e comecei a tocar com minha banda aos 16, já faz bastante tempo. Eu acho que, se eu estivesse disposta ou interessada em me abrir para ver coisas novas sobre as quais não sei muito, as coisas poderiam permanecer sempre frescas. Eu só vou aos shows porque eu gosto de estar ao lado de pessoas que gostam de música.”
Enquanto o After Laughter se esvai e o Paramore se prepara para dar uma pausa, parece uma boa hora para reexaminar o capítulo mais experimental da banda, que resultou em seu melhor, mais pessoal trabalho de todos os tempos. Sonicamente, o álbum tem algumas inspirações em clássicos do post-punk como Talking Heads, em equilíbrio com o indie moderno, como Tame Impala. Apesar de sua aparência dançante e pop, liricamente, é o álbum mais cru, triste e transparente do Paramore.
Eu pergunto à Hayley se ela sente que muito tempo passou desde as primeiras demos e 2015, as gravações em 2016 e quase um ano e meio na estrada. Ela considera a pergunta, e pensativa, responde, “Eu tive muitos momentos, eu me lembro, por exemplo, de ir para o mar com o Zac, um de nossos primeiros passeios durante a gravação do álbum, apenas nós, sendo amigos de novo. Eu fecho meus olhos e estou lá, mas eu também sinto que ‘uau, nós mudamos e passamos por muita coisa desde então.’ Nós fizemos um álbum inteiro e o lançamos e fizemos uma turnê pelo mundo, e jantamos e passamos muitos feriados juntos. O mesmo serve para quando penso no tempo em que escrevia algumas músicas com o Taylor em um pequeno estúdio em Berry Hill. Eu me sinto muito cansada, então meu corpo sabe que já faz tempo, mas eu também estou apreciando e me deliciando em todos esses momentos nostálgicos e no sentimento de poder encerrar algo que começamos e ainda estar tão contente com isso, ou em paz com isso.”
Enquanto esforço colaborativo, o After Laughter é uma expressão pessoal especial para Williams, que se dispôs a canalizar em sua arte e iniciar um diálogo público sobre suas lutas pessoais. Períodos ruins antes, durante e depois da gravação do álbum deram ao relacionamento dela com fãs um senso de responsabilidade para sua plataforma, com uma nova dinâmica. “Eu sinto que essa é a primeiro era em que posso estar fazendo algo em Nashville, e alguém vem até mim e começa a falar sobre a banda. No passado, eu provavelmente teria sentido que essa interação era toda sobre mim, e me sentiria mal por isso. Agora, acho que porque tive a capacidade de me abrir mais sobre as coisas que foram realmente difíceis de falar sobre, outras pessoas sentem que elas podem se abrir mais caso me encontrem pelas ruas. Se elas querem se expressar ou falar sobre isso, então eu saio da conversa sentindo ‘uau, que coisa louca a música faz com a gente, para podermos nos conectar dessa forma.’ Foi isso que mais aprendi com esse álbum, o quão mais eu sinto que posso ver as pessoas, porque permiti que as pessoas me vissem. Eu acho que isso tudo é sobre empatia, e essa tem sido uma palavra-chave nos últimos dois anos.”
“Tem sido uma experiência estranha ser alguém que faz músicas que muitas pessoas ouvem e estar sob o olhar público, sendo tão transparente sobre lutas pessoais e sobre o que você passou e tudo que entrou na gravação desse álbum, criar esse diálogo?”, eu pergunto, pensando que deve ser estranho ter uma plataforma tão poderosa para se expressar e que pode atingir tantas pessoas. “Eu estava falando com o Taylor sobre isso outro dia, ele disse ‘muitas pessoas que vêm aos nossos shows provavelmente estão passando por muitas coisas das quais nunca saberemos’, e realmente a única razão para que elas venham aos shows é porque temos uma plataforma que inspira outras pessoas. Mas de verdade, todo mundo está passando pelo que estamos passando, e como conseguimos expressar isso de uma forma que talvez nos dê um feedback maior, nós damos e recebemos. E isso é bom, porque às vezes eu acho que boa parte de nossa experiência é uma resposta a isso, à forma como você pode opinar o que está na sua mente sobre sua própria existência.”
“Eu sempre precisei disso enquanto escritora,” ela continua, “eu preciso poder ver essas coisas, eu preciso que meus sentimentos tenham um lugar no mundo ou tudo fica confuso. Então eu estou constantemente muito grata, porque eu sei que muitas pessoas não tem o mesmo canal de expressão que eu – ou não o encontraram. O que quer que esse canal de expressão seja, é o que faz com que você sinta que está recebendo o tipo certo de feedback. Claramente o que poderia ser apenas um comentário sobre minhas experiências acaba se tornando uma conversa, porque colocamos isso em uma música que todos podem ouvir. Digo, eu me sinto sempre grata por isso, mas nem sempre sinto que mereço tudo isso, e às vezes me pergunto se estou abusando disso. Mas eu amo isso.”
No início dessa experiência, o After Laughter existia por causa de uma necessidade da banda de se reagrupar, de se conectar, de recalibrar e trabalhar problemas pessoais. É claro, assim que ele entrou no mundo como um álbum completo, um com o qual os fãs puderam se conectar e criar um significado, dançar e ver ao vivo, ele se tornou algo mais universal e diferente de suas primeiras origens. Olhando para trás nos últimos anos, as dificuldades pelas quais a banda passou, os bons momentos, como o retorno do Zac à banda, turnês mundiais e esse feedback positivo, eu pergunto à Hayley se ela consegue apreciar tudo isso agora.
“Sim, eu consigo, realmente consigo. Eu quero dizer tudo isso quando estou no palco antes de tocar ’26’ e falo que, quando começamos a escrever e gravar esse álbum, eu não conseguia me imaginar tocando todas essas músicas e sorrindo ao mesmo tempo. Ainda não tocamos ‘Tell Me How’, e quando a escuto, agora já faz dois anos, mas eu consigo voltar no tempo e desabo. Eu não imaginava dançar cantando ‘Caught In The Middle’, mas é uma das coisas que mais gosto de fazer agora. Isso é um testamento do fato de que, quando você consegue se expressar e tirar algo do seu sistema, é o primeiro passo para a verdadeira cura. Mas quando você tem um apoio para essa cura e pode rir e aproveitar uma conversa… sinto que agora posso estar presente como nunca estive em minha vida, e isso é uma coisa imensa, porque nós nunca temos esse tipo de pensamento. Eu vou ficar triste por deixar tudo isso ir embora, mas agora eu também sei que tudo acontece quando deve acontecer, e que não podemos viver nossas vidas sem reconhecer todas as coisas pelo que elas foram.”
E o que vem por aí, exatamente?
“Estamos prontos para ir para casa”, Hayley explica, “Eu não tenho certeza se sei o que isso significa, mas é legal sentir que estamos encerrando um capítulo, ao mesmo tempo em que estamos abrindo um novo, desconhecido. É reconfortante quando terminamos uma turnê e sabemos que vamos voar de volta para casa, é aqui que descansamos. É bom porque isso me lembra de todas as coisas boas que aconteceram em minha vida.”
Não há um grande plano, um timing estratégico para essa pausa, nada novo para anunciar (embora um sexto álbum pareça mais certo do que o quinto álbum era). “Vamos fazer esse show, vamos voltar para casa, e vamos visitar um ao outro e provocar um ao outro e desabar emocionalmente, depois vamos viver aqui, vamos nos esconder novamente, aproveitar a vida e tudo o que ela é.” E depois de uma festa de encerramento voltada para a comunidade, isso tudo parece um capítulo ótimo para marcar o encerramento da mais catártica e importante era do Paramore até agora.
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