Acostumada a ser a pessoa entrevistada, Hayley Williams inverteu um pouco seus papéis e entrevistou Elke em uma nova matéria para a revista Nylon, em divulgação do novo álbum da artista, Divine Urge.

Elke é amiga da banda, namorada de Zac Farro e abriu os shows do Paramore no Brasil. O novo álbum conta com Zac nas baterias, Brian Robert Jones nas guitarras e com backing vocals de Hayley na música ‘Standard Information’.

Ouça o álbum aqui.

Confira a entrevista traduzida: 

Quando Hayley Williams declara que alguém é seu “artista favorito”, é melhor prestar atenção. Conheça Kayla Graninger, a cantora e compositora de Nashville, mais conhecida como Elke, que também é uma das amigas mais próximas de Williams.

Definir a música de Elke seria uma injustiça. “Sempre acreditei que tudo que você faz é uma canção, e você é completamente diferente em cada uma dessas fases”, ela diz à NYLON. “Gosto de pensar que todas fazem parte da mesma área, mas sempre me sentirei muito diferente porque minha personalidade precisa sempre mudar. Eu sempre preciso quebrar uma nova barreira, e isso sempre fará tudo parecer muito diferente, mas é porque estou escolhendo isso.” Seu lançamento mais recente, Divine Urge, já disponível, é um álbum poderoso que destaca os maiores pontos fortes de sua discografia já extensa. “Basicamente, eu quero que outras pessoas experimentem a liberdade”, diz ela sobre seus ouvintes. “A impressão que quero passar é que quero que as pessoas façam tudo o que suas mentes desejam, sem hesitação, e saibam que todas as ideias são ideias legais. Seja vulnerável, pareça bobo, faça algo que possa parecer estúpido. Apenas experimente tudo o que você quer fazer.”

Aqui, Williams se senta com sua amiga (Graninger também está em um relacionamento com Zac Farro, o baterista do Paramore, que tirou as fotos para essa matéria) para discutir tudo, desde estilo pessoal (“uma colagem”) até o compromisso de ficar parada — com um clássico jogo de “O que você prefere?”, incluído para deixar a conversa ainda mais divertida.

HAYLEY: Quero começar do básico, porque nem sei se sei disso, mas com que idade você começou a fazer este álbum, Divine Urge, e quantos anos você tem agora?

ELKE: Eu tinha 28 anos quando comecei a escreverr. E hoje, tenho 31. Essa é uma ótima pergunta, porque sinto que quando os artistas lançam músicas, é como se eles tivessem a idade que têm no dia do lançamento, mas pode ter sido anos antes que eles estavam escrevendo sobre tudo aquilo.

Sou fã de tudo que você já fez, e este disco, para mim, é o seu melhor trabalho. Sua escrita nele é incrível, e você fez este álbum com um dos meus artistas musicais favoritos, Jake, também conhecido como Louis Prince, que fez o meu álbum favorito de 2020. Então, este álbum é como a junção de dois dos meus artistas favoritos para potencializar seu sucesso conjunto. Qual foi um momento em que a criatividade dele realmente desbloqueou algo na sua, durante a produção deste álbum?

Provavelmente foi no primeiro dia em que estivemos no estúdio juntos. Aconteceu de forma muito instantânea, e não foi necessariamente algo musical que ele fez. Era apenas uma energia que ele tinha. Acho que algumas pessoas estão destinadas a trabalhar juntas. Você sempre pode crescer junto com outra pessoa, mas ele é tão talentoso que acho que ele pode fazer qualquer coisa sozinho. Então, se você lhe der uma ideia, ele simplesmente dirá: “Sim,” e não: “Bem, eu meio que tenho essa outra ideia.” Ele não tem apego a nada. É mais como um fluxo. Acho que essa é realmente a resposta para essa pergunta, é apenas a habilidade dele de fluir.

Quero falar sobre o último single, “Hide In Heaven.” Li um post inicial que você fez sobre as letras estarem relacionadas à ansiedade, à antecipação de problemas, ou até mesmo a sentir que está em apuros de alguma forma. Você corre ou se esconde disso, e quando o momento passa, percebe que fez algo muito pequeno se tornar algo gigantesco. Me identifico muito, mas nunca conseguiria expressar isso da maneira como você fez nessa canção. É brilhante. Você pode falar um pouco sobre essa parte da sua mente? E sobre as metáforas e analogias usadas?

As imagens vieram primeiro. Há uma linha que diz: “Heaven aimed gun then a blank shot, daddy” [“O céu apontou a arma e acertou em branco, papai”], que veio de um sonho que tive em que estava preparada para correr uma corrida de 100 metros, e então o árbitro disparou a pistola, e eu fiquei colada no chão. Todos corriam à minha frente, e eu estava presa ali. Acordei pensando: “Por que as pessoas disparam uma arma em direção ao céu, e é apenas um tiro ‘em branco’?”

Havia outras frases que começaram a me fazer perceber que eu fujo das pessoas. Eu deveria estar correndo no sonho, e não conseguia, como se estivesse com medo… Acho que isso tem sido um sentimento muito predominante na minha vida, de sentir que não consigo confiar nas coisas, então foi meio fácil construir o mundo  a partir de como esse sentimento tem se mostrado para mim por tanto tempo.

Eu poderia falar sobre essa música para sempre. É simplesmente incrível. OK, então, ainda nesse mundo das músicas e sobre o que elas falam, quem é Wild Lucy?

Wild Lucy é um cisne. Tivemos um cisne de estimação quando eu era criança, e minha mãe pegou esse cisne porque, em nossa propriedade, tínhamos um lago, e gansos costumavam ficar por ali e fazer bagunça. Acho que tentamos diferentes métodos para espantá-los. Meu pai tentava dirigir perto deles para assustá-los. Pegamos um cachorro, mas nada funcionava. Então, um dia, minha mãe estava em uma venda de garagem, e a mulher da venda disse: “Estamos vendendo um cisne.”

Não é algo comum em uma venda de garagem.

Minha mãe comprou esse cisne na venda de garagem, trouxe ele para casa no carro. Meu quarto ficava de frente para o lago, então eu via a Lucy o tempo todo. E, para ser bem honesta, eu tinha realmente muito medo da Lucy. Meu pai ia alimentá-la com alface, e eu ficava muito assustada com ela. Então, ela cresceu e voou embora. Todo mundo fez uma busca por ela, e depois a encontraram, mas ela foi comida por coiotes. Minha mãe encontrou um campo cheio de penas, e foi muito doloroso.

Eu uso a Lucy como uma metáfora para a minha avó, que foi assassinada quando minha mãe era mais jovem. O nome dela era Elke, de onde vem meu nome musical. E a conexão é que sempre haverá essa dor profunda quando algo bonito entra na sua vida, algo que está enraizado em você. É uma das frases da música: “This kind of magic that God calls family” [“Esse tipo de mágica que Deus chama de família.”] E quero dizer que isso é dor, é mágica e é família. Lucy foi meio que essa coisa majestosa que veio e foi embora de nossas vidas.

Essa pode ser uma pergunta fácil, mas você prefere compor melodias ou palavras primeiro?

Eu diria que palavras. Eu escrevo as palavras primeiro e, enquanto as escrevo, elas têm um ritmo. Sabe o que quero dizer? É como se fossem letras e ritmo ao mesmo tempo, e a melodia vem logo depois.

Você já lançou tanta música boa como Elke. E, por algum motivo, para mim, isso quase parece outro álbum de estreia. Eu me pergunto se você sente isso de alguma forma. Se essa for a primeira impressão de alguém sobre você, qual é a impressão que você espera causar com Divine Urge?

Acho que de todas as coisas que já lancei como Elke, sempre acreditei que tudo que você faz é uma canção, e você é completamente diferente em cada uma dessas fases. Gosto de pensar que todas pertencem à mesma área, mas sempre me sentirei realmente diferente em cada uma delas porque minha personalidade precisa sempre mudar. Eu sempre preciso quebrar uma nova barreira, e isso fará tudo parecer muito diferente, mas é porque estou escolhendo isso. Tudo faz parte desse processo que estou escolhendo. Se eu vejo algo que parece assustador, ou como “isso é algo que eu não deveria fazer,” eu vou fazer.

Isso é corajoso.

É mais uma questão de natureza. Eu nem diria que sou uma quebradora de regras. Não sinto que seja assim. Só parece que não fico confortável sendo tranquila e estando parada. Quero agitar as coisas.

Isso nem estava nas minhas perguntas, mas você e eu não tivemos muito tempo para conversar sobre isso pessoalmente. Me pergunto se o que você está falando também se conecta à forma como você foi criada, mudando muito e sempre em novos ambientes, tendo que se encontrar em um espaço novo o tempo todo.

Mil por cento. Mesmo que eu morasse na mesma cidade, nós nos mudávamos dentro dela, enquanto estávamos lá, e eu tinha que trocar de escola. Meu ambiente estava sempre mudando. Depois, me mudei para Nova York quando tinha 17 anos, e trocava de apartamento o tempo todo, mudava de emprego, morava com algum namorado. Isso está enraizado em mim por causa disso, 1000%. Estou tentando desacelerar isso de várias maneiras. Nunca criativamente — nunca na minha mente de metas criativas ou pessoais vou relaxar nesse aspecto. Mas, em relação ao meu entorno, eu só quero ter o mesmo grupo de amigos com quem possamos sentar em cadeiras de balanço na varanda quando formos mais velhos. Esta casa é a minha casa. Não quero me mudar como fiz antes. Quero ficar parada dessa forma.

Isso é bom para eu ouvir também, porque eu tenho dificuldade em ficar parada.

É uma ferramenta ter uma mente calma. Às vezes, essas ferramentas são pesadas, e se não tenho algo me distraindo, começo a pensar em tudo e em como preciso ajustar as coisas. “Talvez eu pudesse fazer isso para ser mais legal. Talvez eu pudesse fazer isso para ser mais inteligente.” Não quero mais isso.

Caramba, poderíamos transformar essa conversa em terapia. Precisarei ligar para minha terapeuta imediatamente depois dessa conversa.

Ela deveria se juntar à entrevista.

Digamos que isso é para fãs de música que nunca ouviram você antes. Se você está causando uma primeira impressão em um ouvinte com Divine Urge, qual é a impressão que você adoraria causar?

Basicamente, eu quero que outras pessoas experimentem a liberdade. A impressão que quero passar é que quero que as pessoas façam tudo que suas mentes desejam, sem hesitação, e saibam que todas as ideias são ideias legais. Seja vulnerável, pareça bobo, faça algo que possa parecer estúpido. Apenas experimente fazer tudo o que você quer fazer.

A primeira coisa que as pessoas notam ao ver suas fotos ou vídeos musicais é seu estilo. Como a criação de Divine Urge influenciou as maneiras como você se expressa através das roupas, cabelo ou maquiagem?

Essa é uma ótima pergunta. Este álbum me ajudou muito a finalmente definir meu estilo. Tudo começou quando vi uma foto da Helena Bonham Carter. Ela usa roupas que não são justas, e quase parece uma colagem. Sinto que minha mente, de certa forma, é uma colagem de muitas coisas. Sinto que sou um pouco de tudo na vida em termos de personalidade, traços e escolhas.

Comecei a pensar sobre como meu estilo deveria parecer, e é estranhamente moldado, cheio de aleatoriedades e brincadeiras, e às vezes é super sexy ou até meio masculinizado. Isso me ajudou a me conhecer melhor como essa pessoa que é um pouco de tudo. Não sou a garota indie, doce e legal, ou a modelo alta, sexy, como algo que minha mãe queria que eu fosse, ou apenas o que as pessoas esperam de mim. Pensei tipo: “F*da-se, eu sou tudo isso.” Isso me fez me sentir mais confortável como pessoa também.

É uma perspectiva empolgante para mim, aceitar que podem existir lados contraditórios em você, e que eles podem coexistir. O que você sonha em usar ao performar essas músicas?

Recentemente, tenho pensado muito no Anthony Kiedis. Em primeiro lugar, preciso ficar em forma. Preciso ficar definida, porque isso faz parte da minha moda, de certa forma. Mas não estou falando disso no sentido de “preciso parecer incrível.” É porque esse álbum me faz sentir muito atlética. Quero ser mais atlética no palco. Literalmente, machuquei meu LCM [Ligamento Colateral Medial, localizado no joelho] abrindo shows para vocês na América do Sul. Então, essa coisa atlética é por questão de segurança, mas também por causa do Anthony Kiedis. Eu pensei em usar shorts de terno cortados e um top bem justo.

O que te influenciou quando criança, adolescente e na sua juventude, vivendo sozinha, que ainda te influencia hoje? Existe um fio condutor?

Desejo, sempre desejo.

Oh, cara, não pensei que você fosse entrar nesse caminho. Meu Deus, é por isso que você é minha artista favorita. Caramba. Não há nada como o desejo. Oh meu Deus, eu estou sempre em busca disso.

Estava pedalando à noite, o sol estava se pondo, e comecei a ficar realmente triste. Estava pensando: “Vou morrer. Este mundo está uma bagunça. Por que estou fazendo tudo isso?” Então, deixei os sentimentos se acomodarem, olhei para o céu e pensei: “Uau, algo bonito está se formando. A natureza é linda, e tudo isso é para mim.” Mas brincadeiras à parte, estou sempre questionando e me perguntando se o que estou fazendo está certo. Acho que isso sempre vai ser uma parte de mim, e sempre vou achar isso bonito, mesmo que não seja 24/7, mas estou sempre em busca disso.

Qual é uma influência novíssima para você, que você está descobrindo agora, como alguém na casa dos 30?

Eu descobri a Fiona Apple, mas descobri primeiro a personalidade dela e as lutas que ela enfrentou. Recentemente, fui diagnosticada com três diferentes deficiências.

Você quer falar sobre isso?

Sim. Eu tenho TOC, TDAH e autismo, e é como se, se você tem dois, você tem três. Quando me disseram isso pela primeira vez, fiquei tipo: “Que diabos eu sou?” Mas tem sido uma jornada de cura, porque isso deu sentido a todas as coisas com as quais tenho lidado por dentro. Porque, por fora, é muito fácil dizer: “Eu tenho um método para me apresentar no mundo, e isso é exaustivo.” E estou aprendendo a abraçar algumas das minhas peculiaridades. E acho que isso me trouxe mais perto de mim mesma. Na verdade, na faixa-título, Divine Urge, há uma frase que diz “Racing to disorder, but I like it” [“Correndo para a desordem, mas eu gosto disso.”] Eu escrevi isso e depois olhei para trás e pensei: “Eu me diagnostiquei?” Rimos sobre isso depois, porque fui diagnosticada após escrever esse álbum. E, voltando à Fiona, adoro o estilo dela. Ela também é meio como uma colagem para mim.

OK, estamos chegando às perguntas finais. E quero dizer que nos conhecemos porque você ama meu melhor amigo no mundo todo, Zac Farro. Uma das minhas coisas favoritas é como vocês se conheceram. Você o conheceu enquanto nossa banda estava em hiato, e não o viu e nem nos viu tocar por anos! Você pode contar para o público como vocês se conheceram?

Eu conheci o Zac em um momento em que não estava procurando nada. Assim que nos conectamos, estávamos em um bar, e foi como se acordássemos de um sonho, e disséssemos: “Ah, meu Deus.” Passamos dias juntos em Nova York, e ele me chamava de Bubba. Eu talvez não fosse sair com ele na noite seguinte, e ele me ligou dizendo: “E aí, Bubba?” E eu pensei: “Meu Deus, vou sair com você.” O fato de ele ter ligado foi especial.

Acabamos nos tornando inseparáveis. O que o Zac trouxe para a minha vida foram coisas que eu não sabia como fazer, enquanto pessoa. Ele é muito bom com as pessoas, muito direto e honesto. Ele me ensinou a ser uma pessoa mais completa. E aprendi tudo isso enquanto me apaixonava loucamente por ele.

Você entrou na nossa vida como um raio. Eu lembro de ter dito ao Taylor e à minha mãe, quando perguntaram sobre essa nova garota que o Zac estava saindo, e eu disse: “Essa vai permanecer por perto.” Sinto que nunca deixei de te conhecer.

Eu sinto o mesmo.

Pergunta final: Dê-me o seu melhor “O que você prefere?” que possamos jogar para o público em casa. Seja tão travessa quanto você quiser. Eu não ligo.

Devo fazer a do Papai Noel ou não? Zac me disse que eu não deveria. Ele está balançando a cabeça, dizendo que não. Eu escrevi uma que eu gosto, mas que não é picante: você preferiria poder entrar em um de seus filmes favoritos e passear pelo mundo com os personagens, ou fazer sexo profundo e conectado todos os dias com alguém que se importa com você?

Ah, fácil. Sexo profundo e conectado todos os dias.

OK, quero fazer a do Papai Noel.

Vamos lá, porra.

Ok, então, NYLON, você preferiria ficar presa em um quarto – um quarto confortável onde você se alimenta e tudo o mais -, mas você está presa neste quarto com o Papai Noel e nenhum de vocês pode sair até que ambos façam o outro gozar, mas sem se tocar, ou você preferiria ter diarreia por seis semanas seguidas?

Ainda é uma escolha difícil para mim. Tudo bem. Boa sorte a todos e comprem o disco da Elke. Juro por Deus, é a melhor coisa. Estou muito animada para que todos ouçam.

Tradução: Larissa Stocco/Equipe Paramore Brasil

Confira as fotos da matéria, tiradas por Zac: 

 

Paramore Brasil
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