Em entrevista para a edição de outubro da revista Dork – até o momento disponível apenas para assinantes e em pré-venda para o público geral –, Hayley Williams falou sobre o futuro do Paramore, agora que estão livres do contrato com a Atlantic Records, sobre a The Eras Tour e a decisão de se apresentarem para um público que não é o da banda, sobre a nostalgia e sensação de mudança que acompanha o trio em uma nova fase, revelando também que o Paramore já está trabalhando em novas músicas e que pretende lançar uma gravadora, de nome Fine Print.

Confira a tradução completa da entrevista de Hayley abaixo:

“O Paramore nunca se encaixou realmente em lugar algum,” diz Hayley Williams. Por anos, isso significou que eles eram desconfortáveis outsiders da cena alt-rock na qual surgiram, e que, apesar de serem uma das bandas de guitarra mais inspiradoras, isso deu ao Paramore o que Hayley descreve como “uma mentalidade de cachorro de ferro-velho”.

Nos últimos meses, no entanto, o Paramore começou a fazer coisas do seu próprio jeito. E também sem se desculparem. Com confiança, eles convidaram Remi Wolf, Foals, Wet Leg e Jack Antonoff para fazerem o que eles quisessem com o remix do álbum This Is Why, enquanto David Byrne, do Talking Heads, fazia um cover de Hard Times para o Record Store Day e a banda retornava o favor com seu vibrante take em Burning Down The House. O espiralante, tenro e agressivo This Is Why também viu o Paramore finalizar seu duradouro contrato com a Atlantic Records, assinado em 2005. E qual a melhor forma de celebrar uma recém conquistada liberdade, se não apoiando a amiga e titã do pop Taylor Swift, em estádios da Europa, como parte da gigantesca Eras Tour? “Sabemos que nunca nos encaixamos,” diz Hayley. “Mas talvez isso tenha sido um presente.”

A The Eras foi a maior turnê da qual o Paramore já participou, e eles estão, compreensivelmente, exaustos. “Vamos sempre poder dizer que fomos parte desse momento histórico e que pudemos apoiar uma pessoa com quem crescemos dentro da indústria”, diz Hayley, no 46° de 48 shows. “Mas isso deu muitas coisas ao Paramore também.”

Apesar das preocupações iniciais com como os Swifties reagiriam à marca única do pop-rock do Paramore, a combinação foi perfeita, com os dois atos encontrando alegria e comunidade enquanto cantam hinos de karaokê carregados de emoção. “A experiência da energia que os fãs cultivaram nesse mundo da Taylor tem sido muito legal de conhecer também,” diz Hayley, com sua case de guitarra cheia de milhares de pulseirinhas da amizade que ela vai guardar para sempre. “Eu cresci em uma cena em que não era ok ser qualquer outra coisa que não um homem hétero branco, mas essa turnê tem sido uma verdadeira celebração de algo diferente. É bom para mim ver fãs jovens da música se sentindo livres para amar o pop, se sentindo livres para serem super femininas, e se sentindo livres para serem quem elas querem ser. Essa turnê nos ensinou muito, e ganhamos muito com ela”, Hayley continua. “Eu mal posso esperar para levar isso de volta para os nossos fãs.”

Bem como introduzir novos fãs ao vertiginoso mundo do Paramore, a Eras também permitiu à banda realmente se jogar no lado pop da música, coordenando cores em looks combinados, e trazendo até uma coreografia leve para Burning Down The House e Ain’t It Fun. É algo que é meio natural para Hayley e para o colega de banda Zac Farro, que frequentemente toma o centro do palco do Paramore para performar algumas das músicas divertidas do projeto halfnoise, mas Taylor York passou as duas últimas décadas contentemente nas sombras do lado esquerdo no palco.

“Você precisava ver a cara dele quando eu meio que sugeri que tentássemos dar mais destaque a ele no palco,” ri Hayley, mesmo que Taylor tenha sido o primeiro a aceitar o convite para a The Eras Tour. Ele ficou em choque quando, depois de uma ligação com o produtor de Taylor Swift, descobriu o tamanho do palco. Eles começaram a praticar no estacionamento do depósito deles. “Mas que grande estrela,” diz Hayley. “Estou muito orgulhosa dele. Nós sempre nos desafiamos musicalmente, mas Taylor é uma pessoa que é bastante introspectiva e introvertida na forma que ele lida com a música. É difícil tentar novas coisas, mas honestamente, eu acho que ele se sai melhor do que eu.”

“Posso também aproveitar essa entrevista para dizer que acho que Zac é o baterista mais subestimado de qualquer que seja a porra do gênero que nós tocamos?”, diz Hayley, ainda lutando para encontrar um rótulo para a banda. “Quando ele tinha 11 anos, e eu tinha 13, eu vi ele tocando pela primeira vez, e eu simplesmente sabia.” Ela não consegue explicar como ela sabia, porque o que é que alguém sabe nessa idade? Mas no fim de todos os shows da The Eras, quando toda a banda se reunia ao redor dele para uma furiosa e catártica conclusão de This Is Why, Hayley sentia que todos os seus sonhos para a banda tinham se tornado realidade. “Sou muito grata pelo Zac ter voltado para o After Laughter, ele é a espinha dorsal do Paramore. Ele nos faz melhores.”

“É um momento muito bom da história da nossa banda, especialmente porque houve muito drama no passado,” continua Hayley, com o Parafour (baixista de turnês Joey Howard, guitarrista Logan Mackenzie, percussionista Joseph Mullen e guitarrista Brian Robert Jones) contribuindo para as vibes da banda. “Quando eu finalmente chegar em casa, e quando meu cachorro Alf passar dois dias sem falar comigo porque passamos muito tempo longe, vou saber que foi por algo que valeu a pena,” ela diz.

A história do Paramore sempre foi de perseverança. “Nós nunca sabíamos quem ia sair da banda ou quem ia, de repente, me odiar,” diz Hayley, sendo o This Is Why o primeiro álbum do Paramore que foi gravado com a mesma formação do álbum anterior. “Passei por muita terapia durante nossa carreira, apenas tentando lidar com a ansiedade do abandono e pensando tipo, bem, se todas essas pessoas estão indo embora, se todos esses artigos estão sendo escritos, então talvez o problema seja mesmo eu,” ela explica. Ela também não teve bons momentos com a imprensa.

“Era realmente assustador ser uma mulher jovem nessas entrevistas com caras que tinham o dobro da minha idade. Não estávamos falando a mesma língua, então não era de se esperar que eu fosse mal compreendida tão frequentemente.”

Por muito tempo, todas as decisões que ela tomava, desde letras de músicas até os looks que ela usava no palco, eram tomadas pelo medo. Nos meses mais recentes, no entanto, o medo foi substituído pela confiança. Como ela explicou durante a New York Fashion Week, “eu realmente acho que prefiro ser estranha do que ‘b*cetuda’ [cunty] o tempo todo. Talvez essa seja a coisa mais b*cetuda sobre mim?”

Por mais que a estrada do Paramore tenha sido esburacada, os shows deles ao vivo se parecem mais com uma celebração. “Eu me lembro de quando estávamos em turnê com o Brand New Eyes e nosso produtor continuava dizendo para as pessoas que o único momento em que não estávamos brigando era quando estávamos no palco. Eu não queria aceitar isso, mas ele estava certo,” diz Hayley. “Estávamos abatidos, desconfortáveis, e foi um momento muito difícil, mas há uma razão pela qual eu e Taylor nunca desistimos, e essa razão são os shows. Os shows do Paramore dizimavam muito o veneno todo.”

Por mais livres de regras que os shows da The Eras tenham sido, eles ainda ofereceram a Hayley e ao restante da banda uma chance de liberarem o veneno de uma forma que foi divertida e saudável. “Meu sorriso é um pouco grande demais para o meu rosto, mas não se enganem, eu ainda sou nada mais que uma mulher do tamanho de um passarinho ainda lotada de raiva até o talo. Se eu não pudesse fazer música ou jogar meu corpo pelos palcos todas as noites, eu não sobreviveria,” ela escreveu durante a turnê.

“Há muito pelo que estar agitado e puto,” ela diz hoje. “E há muito privilégio em estar no palco, mas a força que as pessoas me dão quando estamos cantando juntos e a energia que criamos juntos é transcendental. Por mais clichê que isso seja, é a esperança, é a humanidade e é um lembrete de que ainda temos isso.”

Obviamente, shows em estádios são muito diferentes de outros concertos, mas “ter lugares para ir, se conectar com pessoas seguramente e sentir que você pode esquecer coisas é crucial,” Hayley continua. É especialmente comovente tendo em vista que o Paramore escreveu This Is Why, uma música sobre não querer sair de casa porque o mundo é assustador e as pessoas são horrendas umas com as outras. “Eu percebi que não posso estar sozinha”, diz Hayley. “Eu não posso ficar somente comigo mesma, então eu acho que vamos continuar em turnê até que fisicamente não consigamos mais. Você consegue imaginar Taylor York, aos setenta anos, fazendo uma coreografia no palco?” ela ri. “Honestamente, estou muito animada para a próxima encarnação. Parece que há algo na nossa água.”

Então, vamos para o x da questão: O que há no futuro do Paramore?

Bem, a banda já começou a brincar com novas músicas. Em casa, antes da turnê começar, o Paramore criou algumas demos que “realmente surpreenderam” Hayley, com faixas que se inspiram na banda alt-rock de Bjork, The Sugarcubes. Mas eles também passaram alguns dias fora da turnê em estúdio. Em Hamburgo, eles visitaram o Clouds Hill Studio e começaram a trabalhar em outra ideia que “ia para um lado diferente das outras faixas com as quais começamos a trabalhar em casa,” diz Hayley. “Mas isso me deixa animada.”

“As letras das músicas sempre foram uma força muito grande para mim também. Eu sinto um desconforto muito grande quando vamos para casa, para o sul dos Estados Unidos, neste clima político, e muito da poesia que tenho escrito ultimamente se parece mais com uma versão mais madura de temas que escrevi no Brand New Eyes. Além disso, a metade dos 30 anos é uma loucura. Eu ouvi dizer que era para ser uma brisa, mas é como passar de novo pela puberdade.”

Depois da emocionante reação positiva ao pop brilhante do After Laughter e da raiva bagunçada de This Is Why, há um senso de liberdade em relação ao que quer que venha pela frente. “Eu sei que nem todos os fãs da música gostam quando suas bandas favoritas mudam as coisas, mas isso é algo que sempre fizemos,” explica Hayley. Mesmo os dois primeiros álbuns da banda foram mais inspirados por mais do que apenas o pop-punk. “Eu sinto que temos agora mais espaço para fazer o que quisermos, sem olhar para trás,” ela continua. “Não precisa ser uma coisa só.”

Agora, Hayley tem estado inspirada pelo destemido, meio caótico mundo do pop que tem sido carregado por artistas como Billie Eilish, Olivia Rodrigo e Chappell Roan. Elas não têm medo de sentimentos bagunçados e não se importam em não ter todas as respostas, algo que o Paramore também sempre fez muito bem. “Nós temos todas essas mulheres realmente dominando o mundo, e eu acho que o pop nunca foi tão legal quanto agora,” diz Hayley. “É inspirador ver artistas jovens serem tão corajosas, se expressando livremente e fazendo coisas boas que todos querem cantar, enquanto também cantam sobre tópicos difíceis que, talvez, nem todos queiram falar sobre,” ela continua, com essa nova geração de pop stars iniciando discussões sobre política, direitos de aborto, problemas de autoimagem e comportamento predatório de fãs. “Eu espero ter tido algo a ver com tirar algumas merdas do caminho [para a nova geração], porque sinto que essa coragem não era algo que eu me sentia segura para ter quando nós começamos,” completa Hayley, que entrou em contato com Chappell quando as coisas começaram a estourar para ela. “Hayley Williams é a vadia mais forte de todos os tempos,” disse Chappell para a Rolling Stone recentemente.

“Mas há também coisas animadoras acontecendo no mundo das guitarras”, diz Hayley, citando Amyl and The Sniffers e a “doentia” nova banda Font. “Sempre vou amar o indie sleaze e bandas como The Rapture e Yeah Yeah Yeahs, mas estou pronta para o que quer que venha a seguir no futuro distópico no qual estamos entrando. Precisamos da música punk, e precisamos dos movimentos underground,” ela explica. “Não que eu queira me esconder da música pop, mas porque há vida nisso que eu quero viver.”

Há mais na próxima era do Paramore do que apenas novas músicas, com a banda se acostumando com sua recém independência. Não ter uma gravadora é o mais próximo que o Paramore já esteve de uma “liberdade total”, que só sentiram quando iniciaram a banda. “Acho que a criatividade está prestes a pegar fogo. Não ter nenhum prazo de entrega costumava parecer assustador, mas eu percebi que, desde que começamos, a indústria da música nunca mais permaneceu a mesma por mais de um ano, e nem nós permanecemos. Então agora podemos apensar fazer o que sempre fizemos sem nos preocupar em nos encaixar em algum tipo de conglomerado.”

Eles estão dando sinais sobre algo chamado Fine Print, que eles ainda estão construindo do zero. “Ainda estamos tentando descobrir algumas coisas sobre isso, mas me deixa animada saber que chegamos a um ponto de nossas carreiras e que temos uma plataforma que é suficiente para que não tenhamos que seguir algumas regras agora. E talvez consigamos também construir uma ponte, de certa forma, para outras pessoas também.”

Com a Fine Print, o Paramore quer encontrar um equilíbrio entre criar arte e viver a vida, especialmente porque “a indústria da música não te recompensa por cuidar de si mesma,” diz Hayley, que também tem se questionado sobre pagamentos mais justos para músicos e como apoiar novos artistas. “Eu ainda acredito que existem formas de elevar a humanidade que existe em compartilhar a música, mas eu não sei como isso cabe no guarda-chuva da Fine Print,” ela admite, com o projeto ainda em seus momentos iniciais.

“Eu preciso me encontrar com algumas pessoas que são mais espertas do que eu, mas sentimos que é possível fazer as coisas de uma forma diferente,” ela continua. “Quando o algoritmo é um Deus e as gravadoras se tornam fábricas de conteúdo, agradeço muito pela Saddest Factory [gravadora de Phoebe Bridgers] e pela Congrats [gravadora de Zac]. Acho que são os artistas que precisarão ser as pessoas que vão guiar o caminho para transformar o universo em um lugar ok para a criatividade dos outros.”

E isso começa em casa. “Fine Print é sobre criar um ecossistema melhor para nossa criatividade,” explica Hayley. E isso inclui materiais solo em potencial também. “O Paramore sempre foi o que eu mais quero fazer, e eu sou muito apaixonada e protetora com a banda,” diz Hayley, mas algo mudou depois que ela viu que nada mudou na banda quando ela lançou os álbuns Petals For Armor e Flowers for Vases/Descansos. “Eu não sinto que terminei ainda,” ela diz. “E é muito bom poder dizer isso.”

Originalmente, ela queria lançar suas músicas solo sob o nome Petals For Armor porque parecia algo que se encaixava. “Mesmo quando eu estava fazendo o Petals, eu ficava preocupada com o que as pessoas pensariam sobre o Paramore porque os rumores voam muito rápido, mas agora não tenho mais esse medo. Sei que os três de nós seremos criativos até morrermos, e isso vai se manifestar em um milhão de projetos diferentes,” ela explica. Alguns projetos serão do Paramore, é claro, mas outros serão do Zac, gravando clipes em filme, ou Taylor sendo o produtor de álbuns de outras pessoas, como ele fez com o Petals For Armor. “Acho que a Fine Print vai ser ótima para englobar todas essas coisas.”

O Paramore ainda está construindo as bases da Fine Print, mas a coisa toda está sendo construída sob a mesma ética do Art and Friends, festival de 2018. “Se não forem as pessoas que eu facilmente chamaria para um jantar, eu não quero mais ninguém envolvido,” diz Hayley. “Música é comunidade. É uma ótima forma de se conectar, e é a energia que eu quero em volta de qualquer coisa que fizermos.”

Novatos ao mundo da banda podem não entender como é importante para Hayley estar falando sobre o futuro da banda com tanta certeza, com o trio focado mais em tentar sobreviver ao presente imediato do que se preocupando com o futuro. “Tivemos uma conversa sobre isso no fim do ano passado, e eu disse a Zac e Taylor que, mesmo se disséssemos que encerramos com o Paramore, nós ainda seremos sempre o Paramore,” explica Hayley. “Estamos nessa banda desde que éramos crianças, e ela é a história da nossa amizade. É o veículo de cada lição que já aprendemos na vida,” ela continua, com a banda finalmente em um lugar que não é mais definido por seu passado truculento. “Mesmo se quiséssemos tirar 10 anos sabáticos, ainda seríamos o Paramore. É bom aceitar isso, em vez de ficarmos ressentidos sobre isso,” diz Hayley, antes de adicionar rapidamente: “Não vamos dar uma pausa de 10 anos; acho que preciso esclarecer.”

“Por muito tempo, tudo parecia ser muito sério, mas me sinto muito grata por termos esse espaço, o que quer que ele seja. Ainda é a vida, e acho que todos nós sempre temos nossos altos e baixos, mas eu acho que é hora da gente aproveitar.”

O Paramore pode estar olhando para o futuro, mas os últimos 18 meses viram a banda aceitar seu próprio legado. Eles voltaram às músicas com guitarra no This Is Why, reviveram uma boa quantidade de músicas clássicas para seus shows ao vivo e foram headliners do When We Were Young Festival, enquanto processavam sua própria história com a cena punk. “Quase 20 anos depois, nós somos tratados como o pilar de todas as cenas que ameaçavam nos rejeitar. E me rejeitar”, Hayley escreveu na época.

Muitos artigos reiteravam a influência da banda e a importância dela para uma geração, depois que a banda passou por um momento mais quieto durante a era After Laughter. “Precisávamos que aquele momento fosse sobre nós três nos reconectando de novo e sobre o momento que passei com meu divórcio”, diz Hayley. “Nós não planejamos nada, coisa com a qual a gravadora não ficou feliz, e depois tiramos o que as pessoas chamam de hiatus, então agora chamo esse período assim também. Mas eu percebi em tempo real que isso mudou a forma como as pessoas falavam sobre o Paramore. Foi algo que nos tornou mais humildes, mas me senti vingada,” diz Hayley. “Essa coisa pela qual lutei por toda a minha vida, as pessoas talvez tenham começado a ver as coisas da forma que eu as via, e isso foi muito bom,” ela explica.

Essa celebração do passado deles ainda tem acontecido, diz Hayley. “Isso não veio sem que tenhamos passado por muito sofrimento, no entanto. Eu me sinto muito hesitante em olhar para o passado porque é assustador. O que eu passei na minha vida pessoal, o que a banda passou, não foi legal.”

Originalmente, o Paramore não ia tocar Misery Business na The Eras Tour. “Eu estava orgulhosa disso. Eu queria que as pessoas soubessem que não precisávamos daquela música para fazer um ótimo show, e eu queria que as pessoas soubessem que não apoiamos mais aquela mensagem.” A banda aposentou a música em 2018, devido à sua mensagem anti-feminista. Mais cedo na turnê, a banda saiu com Taylor Swift para uma festa cheia de estrelas, na qual eles cantaram uma música do Lenny Kravitz para o Lenny Kravitz. “Foi muito legal, muito selvagem, mas por que fomos convidados?” pergunta Hayley, se negando a dizer mais nomes de convidados.

Naquela mesma noite, Swift perguntou a Hayley por que eles não estavam tocando a música. “Todo mundo sabe que você é feminista,” disse Swift. “Tem pessoas na plateia que vão reconhecer a música e que depois vão seguir o caminho de vocês pelo que quer que venha a seguir. Eles vão poder ouvir as outras músicas das quais vocês talvez tenham mais orgulho ou que não têm esse adesivo grudento nelas, mas vocês ainda têm um legado que vocês construíram.”

Foi uma conversa que lembrou Hayley de que o Paramore ainda não acabou, que eles ainda têm muita vida a viver. “Eu gostei muito de ver fãs jovens de música nesses shows, porque faz você se lembrar de que o mundo não está acabando,” ela diz.

Ela teve um momento similar com “The Only Exception”, Apesar de já terem tocado a música durante as turnês do This Is Why e de entrar na The Eras sabendo que teria que performar essa música em estádios, Hayley ainda se sentia desconfortável sobre uma música grudenta que ela escreveu quando era adolescente. “Não é uma Misery Business, mas eu não queria reiterar essa mensagem também.” Dessa vez, foi seu preparador vocal quem conversou com ela. “Ele disse, ‘você está numa banda com seu namorado. Apenas olhe para ele e finja que nada mais existe.’ E sabe o que é mais bobo? Eu me senti muito estúpida fazendo isso no começo. Eu me senti estúpida reproduzindo essa expressão pura de adoração e me voltando à esperança que eu tinha quando tinha 19 anos de idade.  Mas essa turnê mudou completamente minha relação com essa música. Agora, quando a canto, eu me sinto feliz.”

Graças a um renovado interesse no alt-rock dos anos 2000, ao seu espaço na The Eras e à brutal identificação do This Is Why, o Paramore está agora maior do que jamais foi. Enquanto mais pessoas passam a conhecê-los, mais pessoas se apaixonam pelo coração aberto e pelo rock empático deles – em um momento em que muitas bandas similares a eles continuam presas à nostalgia. Então por que o Paramore parece ter mais vida do que nunca?

“Se eu puder ser realmente, realmente vulnerável… eu não sei,” admite Hayley. “Há dias em que eu me sinto velha e abatida, há dias em que me sinto no topo do mundo e há momentos que tornam toda a atenção assustadora, porque e se não conseguirmos lidar com ela? É isso que amo no Brat, de Charli XCX. É a sensação de olhar por uma cortina que mostra coisas que todos nós sentimos. Nós passamos muito tempo tentando nos encaixar, e isso sempre engatilhou meu complexo de perdedora por ter sido uma criança educada em casa, mas a coisa mais importante é aprender a não ficar na defensiva com essa mentalidade de azarão,” ela explica, com o Paramore dando boas-vindas a muitas coisas novas. “A única coisa que não é bem-vinda é a intolerância, mas isso é uma conversa completamente diferente. Eu quero que as pessoas saibam que, se elas estão com a gente, e se estivermos fazendo tudo certo, elas vão também crescer com a gente. Espero que estejamos comunicando isso de uma forma que seja positiva. Por mais que uma fachada da banda seja pouco identificável, nós ainda somos três amigos da escola que passaram por muitas fases da vida juntos, então espero que as pessoas possam ver nossa humanidade. No fim do dia, somos uma família disfuncional, e quem é que não tem isso?”

Há também o fato de que tudo sobre o Paramore parece ser afetuoso e empático, em um mundo que parece recompensar o egoísmo e pessoas sem coração. “Isso é algo que vem de perceber que não há como sobreviver ao mundo sem que tenhamos uns aos outros. Isso é o que me mantém suave,” diz Hayley, respirando fundo. “Cara, quando realmente estou passando por algo difícil, posso me encolher para dentro de uma casca muito dura. Começando pelo relacionamento amoroso que tenho com o Taylor agora, eu tenho aprendido muito, e isso não é fácil. Eu sou uma colcha de retalhos de todas as coisas ruins que já vivi, vi ou fiz e eu acho que a única coisa que me mantém correndo disso e me escondendo disso é saber que não há como passar por esse mundo sem que eu esteja aberta. É difícil às vezes, mas me conectar com outras pessoas faz com que eu sinta que há algum tipo de futuro.”

Levou 20 anos, mas o Paramore está finalmente em um ponto em que eles estão confortáveis se encaixando “a seu próprio modo”, como diz Hayley. “Eu mal posso esperar para continuarmos construindo juntos,” ela completa, com um sorriso. “Parece muito esperançoso, e Deus, eu preciso disso.”

Tradução: Larissa Stocco/Paramore Brasil

*A matéria da Dork conta também com uma coluna de opiniões de outras celebridades sobre a banda, que será traduzida em breve.

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