Essa review foi produzida pela equipe Paramore Brasil em parceria com nossa criadora de conteúdo e amiga de longa data, Ana Paula Figueroa – Instagram.

Não é segredo pra ninguém, mesmo antes de seu lançamento, que This Is Why é recheado de significado. Desde After Laughter, a banda vêm expondo a complexidade emocional da vida adulta em suas letras, enfatizando como a subjetividade da música e dos sentimentos andam de mãos dadas.

O que sempre impressiona na trajetória do Paramore, é como vida e arte se entrelaçam e se manifestam numa linguagem quase que universal. Em outras palavras: conversam com os processos emocionais, de autoconhecimento, limites, raiva, medo, sociedade e envelhecimento, traduzindo tudo isso musicalmente – a ponto que milhares de jovens adultos e adultos ao redor do mundo inteiro se reconheçam ali.

De primeira, parece que eles finalmente se consolidaram tirando as amarras da carreira na adolescência. É naturalmente o trabalho mais maduro da banda, em que fica nítido os processos individuais deles, mas principalmente de Hayley, em se apropriar da própria história. Quando Paramore disse que todos nós crescemos juntos, eles realmente falaram sério.

Nunca houve um trabalho de divulgação tão intenso antes, declarando uma autoconfiança tão esperada pelos fãs – que inclusive foram totalmente envolvidos na divulgação, através das Listening Parties, promovendo um sentimento de intimidade que só amigos e família do trio vivenciaram, tornando tudo exponencialmente mais especial.

OS VOCAIS DA ERA THIS IS WHY

Numa avaliação resumida, Hayley tem seus vocais mais saudáveis do que nunca. Em This Is Why, ela não se apoiou em seus clássicos e impressionantes beltings, nem somente nas notas mais altas, mas em mostrar a versatilidade que seu registro vocal tem: desde graves mais sustentados a agudos tão penetrantes que chegam a notas dificilmente vistas antes, como é o caso de Thick Skull.

Numa tentativa de resumir e generalizar o diferencial dos vocais, percebemos que os backing vocals, neste álbum, foram mais reaproveitados como recurso harmônico. Ainda utilizando o aprendizado da era solo, que permitiu que ela tivesse um espaço maior para ser mais criativa na interpretação.

Agrada muito que Hayley tenha usado o recurso do speech, influência de sua banda favorita Mewithoutyou, de literalmente falar nas músicas, gritar e se expressar sem ser cantando melodicamente. 


O INSTRUMENTAL

Muito mais focado em timbre e menos distorção nas guitarras, e em uma percussão mais ‘groovada’, a banda pega emprestado do blues e do jazz uma base importantíssima para qualquer banda: a comunicação.
Não somente na comunicação em si, mas no diálogo que existe numa troca musical instrumental. Em diversos momentos, é perceptível como todos os instrumentos e a voz falam, fazem perguntas e também respondem, numa dinâmica com cadência, totalmente natural e certeira.

Desta vez, além dos sons metálicos já vistos antes em Pool, por exemplo, a banda apostou em um instrumento nunca utilizado antes: a flauta transversal. Para os fãs mais assíduos pode causar estranhamento – mas é um estranhamento bom. É surpreendente.

OS HIGHLIGHTS DE CADA TRACK

This Is WhyUma escolha de primeiro single muito inteligente. Mostra como estão mais inclinados ao Indie, muito mais do que em trazer hits para todas as paradas musicais. É inegável a sinergia da banda ao tocar uma música tecnicamente tão difícil.

The News – Um resgate às origens, mas com elaboração e finesse de quem entende muito. Um manifesto social punk/indie, nunca antes trazido com tanta honestidade pela banda.

Running Out Of Time – O tic tac com timbre indagante percorre toda a faixa que é sobre, literalmente, estar sempre lutando contra o tempo. Dançante, poderia se encaixar no After Laughter, mas ainda assim está neste novo lugar e não poderia estar em outro álbum, a não ser em This Is Why.

C’est Comme Ça – Teve influência clara de Bloc Party. Uma música-monólogo, com versos falados e um refrão interpretado de forma expansiva (“na-na-na-na”), com uma letra impossível de não se identificar.

Big Man, Little Dignity – Vocais mais relaxados que soam como um desabafo íntimo, uma memória dolorida. Ainda assim, o vocal exprime a raiva num drive que rasga a letra em “No offense”, nos refrões. Seus falsetes – felizmente muito presentes no álbum todo – trazem uma roupagem delicada para uma música que aborda um relacionamento abusivo. No final, ouvimos o surpreendente som da flauta transversal num timbre nostálgico, em fade out, que demonstra o quanto isso ficou no passado.

You First – Inicia com timbres de guitarra que lembram o álbum auto-intitulado. Agora num tom de alarme que é impulsionado pela ferocidade do vocal e permeia um indie rock. Trazem a ironia maior da vida adulta em “Todos são vilões e não há como saber quem é pior”.

Figure 8 – Mais experimental, destaca a harmonia com influências claras a Radiohead – banda que o Paramore sempre menciona com admiração à sua influência.

Liar – Tem uma sonoridade que se assemelha à carreira solo de Hayley, quase que um empréstimo das ghost notes (aquela percussão bem leve mas ressonante, sabe?) da bateria de Leave It Alone, do Petals For Armor, misturado a uma pincelada de tudo o que ouvimos em Flowers For Vases.

Crave – Uma música de passagem, quase que uma trilha sonora de longa metragem. Melódica, melancólica e com uma letra carregada de reflexões.

Thick Skull – Primeira música escrita, a favorita da banda, e a última no álbum. Depois de ouvir, fica claro que nada disso é à toa: a música é um encerramento de um espetáculo, que sintetiza um passado turbulento com um futuro otimista.

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