Em entrevista concedida para a Billboard, Hayley Williams comentou como a quarentena tem moldado as suas estratégias no lançamento das músicas do Petals for Armor, quais os desafios de promover um álbum num período conturbado e como foi encontrar a forma inesperada de lançar o seu tão aguardado projeto solo.
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“Eu estou repensando todas as minhas merdas introvertidas” Hayley brinca. A poderosa cantora do Paramore está enrolada no sofá na sua casa em Nashville com uma caneca de café nas mãos, o seu cabelo de cor laranja cenoura agora está um loiro platinado, vestida com um roupão listrado e conversando pelo Skype. Como todo mundo, Williams está em quarentena por conta da contínua ameaça do coronavírus. Nas últimas três semanas, seu goldendoodle (golden retriever + poodle), Alf, e uma pilha de discos de vinil de rock que a sua mãe trouxe, têm sido as suas únicas companhias.
A despeito da pandemia global, a vocalista de 31 anos do grupo pop punk já estava passando o último ano dominando a arte de ficar sozinha. Depois de sair em turnê com o álbum After Laughter, de 2017, a banda entrou em hiatos temporário e Williams se encontrou sem planos pela primeira vez em muitos anos. Junto à isso, o seu divórcio com o guitarrista do New Found Glory, Chad Gilbert, que se encerrou enquanto Paramore estava na estrada, Williams voltou para casa no final de 2018, “Eu tive uma explosão emocional”, ela lembra. “De se mexer, se mexer, se mexer para ‘Ok, vamos tirar umas férias.'”.
Foi a sua terapeuta quem deu a sugestão de canalizar os sentimentos dela para a composição. A primeira foi “Leave it Alone”, uma reflexão sobre perdas que Williams escreveu com o baixista de turnês do Paramore, Joey Howard. Ela fez a demo de mais 5 faixas onde trocava o brilho da new wave do After Laughter por sons de guitarras e floreios vocais peculiares com a ajuda do guitarrista do Paramore, Taylor York. Ela só pensava nesse projeto como algo hipotético. “Eu pensava, ‘bem, se isso fosse algo real…'” ela diz com um sorriso pretencioso. “Taylor teve que ficar falando para mim. ‘Isso é real. Já é real.'”.
A partir do momento que ela se viu sonhando em performar as músicas no palco, Williams começou a acreditar nele. Ela revelou um plano ao Mark Mercado, empresário de longa data do Paramore: ela lançaria o seu primeiro álbum solo, Petals for Armor, em 3 partes, deixando os fãs sentirem o passo a passo da sua recente jornada emocional que nasce da raiva, passa pela paz e chega no empoderamento. Parte 1 foi lançada no dia 6 de fevereiro; parte 2 foi lançada faixa por faixa desde o dia 24 de abril (decisão tomada devido a pandemia); e o álbum completo chegará no dia 8 de maio, incluindo músicas das duas primeiras partes com outras faixas adicionais.
O lançamento de partes separadas de um álbum não é uma ideia nova. A rainha sueca do eletro pop Robyn lançou o Body Talk em 3 partes durante o ano de 2010, e isso permanece como um marco para os compositores pop da década passada. Com o passar dos últimos anos, grande número de artistas – de veteranos como John Mayer até novos atos como Kevin Abstract do Brockhampton e a dupla de country pop Maddie & Tae – tem experimentado o lançamento de músicas de formas discretas, mesmo não tendo tanto sucesso que um álbum tradicional.
Mas a introdução gradual de Williams está pronta para ser a mais bem sucedida do gênero. A base de fãs do Paramore, sempre pronta para devorar qualquer fragmento de música que ela lançar, ajuda muito, mas o álbum é uma afirmação coesa – uma coleção dançante de músicas que encontra Hayley Williams no seu momento mais honesto – impulsionado por uma estratégia de lançamento precisamente adaptada às suas 3 ondas de emoção. De início, a primeira faixa ‘Simmer’ já estreou nas posições superiores de 4 paradas de rock da Billboard, atingindo o pico de numero 7 na ‘Hor Rock Songs’.
“Nós queríamos abordar de uma forma diferente de tudo que fizemos com o Paramore,” Mercado diz. “Na verdade, o material exigiu essa abordagem.”. Enquanto a banda tem lançado suas músicas pela Warner, gerenciado pela Fueled By Ramen, Williams gravou Petals for Armor separadamente pela Atlantic Records, onde a COO Julie Greenwald formou um time composto quase inteiramente por mulheres para esse projeto. “Quando temos um olhar novo, temos novas ideias” Greenwald diz. “Todas as partes desse projeto dizem ‘Eu sou Hayley Williams.’”.
Esse lançamento gradual também tem permitido uma flexibilidade num período em que temos provas concretas que isso é necessário. Devido a pandemia, Williams teve a oportunidade de mudar e lançar as partes da parte 2 separadamente ao invés de todas de vez, oferecendo aos fãs que estão em quarentena algo para esperar a cada semana. Com cada música ela tem lançado outras coisas como vídeos com os bastidores das gravações, tutoriais de dança e vídeo cinematográficos, tudo isso criando uma história em que Hayley se insere e escarpa de um casulo como se fosse um inseto.
“Um dos maiores desafios agora é continuar com o mesmo ritmo” nas plataformas de streaming, disse Nina Webb, chefe de departamento de marketing da Atlantic Records. “Os Artistas trabalham duro para criar uma obra e os fãs consomem tão rápido. Dessa forma os fãs ficam satisfeitos com mais músicas e 5 músicas são consumidas mais facilmente que 15.”.
Agora, com o fim dos lançamentos se aproximando — e com a sua turnê de verão na Europa e EUA prevista para ser adiada — Williams está se ocupando na quarentena com um balanceamento entre trabalho e distrações prazerosas. Ela está assando uma torta de maça enquanto conversamos, e esta pronta para aprender uma coreografia para o seu próximo lançamento: um mini vídeo de exercício físico para uma música presente na parte 2, “Over Yet.” “Eu tenho me conhecido mais, e fiz algo que me deixou bastante orgulhosa,” ela comenta sobre seu período de solidão antes e depois do início da quarentena. “Agora eu estou mais pronta do que nunca.’.
Como você está encarando o trabalho em meio à pandemia?
Estamos todos confusos sobre: “Como você promove algo neste tempo [e] não parece totalmente com um imbecil?” No outro dia, eu estava na banheira com uma máscara de rosto muito louca e a Bethany Cosentino, da “Best Coast’, me ligou pelo FaceTime. Estávamos tentando incentivar uma a outra a continuar trabalhando. Hoje, colocar a música “Over Yet” me ajudou tremendamente, porque me dá algo em que focar a energia, em vez de assistir ‘Succession’ novamente. Cada música é um catalisador para mais conversa e conexão, o que todos nós estamos desesperados por agora.
Desde a sua adolescência, você resiste a ser empurrada para carreira solo – você costumava se apresentar em uma camiseta que dizia “PARAMORE IS A BAND”. Você estava apreensiva em ir sozinha depois de anos dizendo “não”?
Levei um tempo para aceitar que eu estava dentro da ideia. Eu disse “nunca” por tanto tempo que me pareceu um pouco inautêntico mudar a minha melodia. Também levei tempo para perceber que só porque estou fazendo algo que quero possuir um pouco mais, isso não significa que eu não possa ter os meus amigos como parte disso. [York produziu o álbum, Howard co-escreveu várias músicas e o baterista do Paramore Zac Farro toca em algumas faixas]. Eu realmente não prefiro estar por conta própria. Eu sinto falta da troca de energia de ter Zac e Taylor por perto para algumas dessas coisas.
Como está sendo ir numa direção sonora diferente?
Quando escrevi ‘Dead Horse’, fiquei muito surpresa que algo tão pop saísse de mim. Fiquei envergonhada com algumas das letras. Eu quase voltei para a minha concha, mas lutei e decidi: “Há uma razão para essa merda estar surgindo, e eu vou fazer isso”.
Qual foi o ponto de virada em que você decidiu ir com tudo?
Eu tenho uma relação de amor/ódio com sucesso: Quero que [o álbum] se dê bem porque quero que as pessoas o ouçam, mas também sinto muita pressão. “Cinnamon” e “Sudden Desire” pareciam músicas que eu gostaria de experimentar em um cenário ao vivo, então eu estava pensando: “Já estou tendo visões disso. Eu já me decidi”. Mark [Mercado] me convenceu a contar para a gravadora. Eu pensei: “Será que eles vão pensar que isso significa que eu estou tentando fazer um grande disco pop? Não é isso que eu quero”.
Como é que trabalhar sozinha acabou sendo diferente, se é que é diferente?
Fazemos discos do ‘Paramore’ de forma muito semelhante – nunca sabemos realmente em que direção vamos quando começamos. Mas todo o resto foi diferente. Foi super intimidante, porque eu estou em uma banda com seres humanos tão talentosos, então eu não me sinto realmente atraída para entrar lá e tomar qualquer decisão. Mas eu experimentei, e minha musicalidade se tornou um personagem central. O coração da banda é tentar não reprimir os instintos. Isso foi algo que aprendi ao escrever com Taylor. Eu não diria que se tornou uma fórmula, mas Paramore definitivamente ficou confortável. É tão bom ter alguém olhando para você, e ter tanta fé em você. Você chega a um lugar novinho em folha.
Você assinou com a Atlantic por volta dos 14 anos de idade e, desde então, tem tomado posse de sua carreira. Como você se certifica de ser escutada?
Houve uma reunião [com a Atlantic] que eu me lembro, onde houveram ultimatos sendo apresentados. Eu era uma criança. Eu era tipo: “Olha. Eu ficaria igualmente feliz voltando e tocando música no porão do meu amigo. Eu não preciso de tudo isso”. Essa é a mesma energia que eu carreguei ao longo da minha carreira. Ao longo da minha vida, um dos temas para mim não tem sido ouvido. Estou trabalhando nisto em terapia. Acho que anseio por tocar músicas, porque em algum lugar, lá no fundo, eu quero ser ouvida e compreendida. E esse sentimento vem junto comigo quando entro em uma reunião.
Eu só tenho que confiar que o que eu digo é verdade e ser ousada o suficiente para dizer as coisas que eu sinto. E isso não significa que eu ande por aí sendo durona. Eu sou muito o oposto, e eu gostaria de poder ser durona com mais freqüência em ambientes de negócios. Especialmente quando eu assisto a série ‘Succession’. Para Petals For Armor, sentei com [o CEO da Warner Music Group] Max [Lousada] e Julie e disse a eles: “Aqui estão minhas influências e a música que escrevi até agora”. Eu quero fazer algo disso. E é assim que eu vou fazer”.
Por que você acha que um lançamento em três partes faz sentido para este projeto?
Algumas dessas músicas não pertencem juntas. Elas vivem no mesmo universo, mas é como nos filmes Marvel: você tem consciência desses outros personagens, mas talvez eles não estejam em todos os filmes. Eu queria retratar isso, e a melhor maneira era apresentar as músicas quase exatamente do jeito que elas vieram até mim. Quando eu comecei a escrever essas músicas, eu tinha começado a passar por algumas das partes mais profundas e obscuras, eu acho, da minha “jornada de cura”? Eu me sinto tão brega dizendo isso. Quando cheguei às músicas que vieram depois, eu estava vendo mudanças em mim mesmo, e me sentindo muito mais leve.
Como você acha que a lançamento gradual muda a experiência de escuta?
Liricamente, há muito o que pesquisar. Eu realmente gostei de poder dizer, “Aqui está uma música”, e então por uma semana eu poderia ou responder perguntas sobre isso, ou criar conteúdo que é focado apenas naquela música. Eu posso ser um pouco mais delicada na forma como as entrego.
O gênero rock tem sido indiscutivelmente mais lento para inovar nessa frente. Por que você acha que isso acontece?
O meu melhor palpite é que há menos recursos no gênero. E eu acho que os artistas de rock são pessoas de um estado de espírito mais alternativo. É completamente diferente para uma banda alternativa fazer patrocínios ou endossos porque há essa mentalidade de, “eu não quero me vender”. Mas artistas pop, R&B, hip-hop – eles são tão orgulhosos dessas parcerias, e isso realmente ajuda a reforçar a carreira deles. Nós também não celebramos o rock em um grande nível. Os Grammys não transmitem um gênero alternativo. Quando [Paramore] ganhou a melhor música rock [por “Ain’t It Fun”] em 2015, não só ganhamos e não estávamos lá, como também não foi um prêmio televisionado.
Essa experiência mudou a maneira como você vai pensar em lançar música no futuro?
Independente do coronavírus e da quarentena, acho que já estamos tendo que descobrir novas maneiras de fazer as coisas. Não só porque pode ser lucrativo, mas também porque é só hora de tentar coisas novas. Eu lanço discos desde os 16 anos e já fizemos mais ou menos das mesmas formas. Isso atiçou essa coceira em mim, onde espero poder aprender com isso e então, quando for a hora do Paramore fazer algo a mais, podemos decidir. Talvez até lá, haverão todas essas outras novas maneiras de fazer isso – um grande buffet de como lançar merda.
Petals for Armor, o primeiro projeto solo de Hayley Williams, contém 15 faixas e será lançado no dia 8 de maio.
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