Em recente entrevista para a Red Bull, Zac Farro – o baterista do Paramore e vocalista do HalfNoise, grupo formado em 2011 – falou sobre o tempo que passou longe da banda quando a deixou, em 2010, ao lado de seu irmão, e sobre o que mudou desde então.
Confira a entrevista abaixo:
Se você cresceu nos dias de glória do Soundwave Festival, MySpace e dos celulares HipTop, existe a chance de que o Paramore tocava no seu iPod mini e no seu mp3. O grupo pop punk do Tennessee foi um dos pioneiros do gênero musical, e abriram caminho – com um verso sarcástico e uma garrafa de tinta laranja por vez – para um bando de bandas pop punk, emo e alt-rock que chegaram ao sucesso. Pense no Twenty One Pilots, 5 Seconds Of Summer e no PVRIS e suas semelhanças com o All Time Low, Fall Out Boy, The Academy Is… e Panic! At The Disco.
Mas se você olhava além da presença explosiva da vocalista Hayley Williams no palco, você encontrava Zac Farro, apenas alguns metros longe, em sua bateria. E depois de detoná-la durante seis anos passando por vários lugares do mundo e numerosos estúdios, sendo parte da revolução punk do Paramore, Farro descobriu que precisava de uma mudança em seu estilo de vida. Ele saiu do Paramore em 2010, se mudou para a Nova Zelândia e criou uma nova vida para si mesmo, em sua banda HalfNoise.
Eu falei com ele durante uma pausa rara da turnê em Williamsburg, Brooklyn – ele e seus colegas de bandas e amigos fotam até um riacho para ver o sol se pôr. Ele é muito falante e animado e ri nervosamente – dele mesmo, ao que parece – mas não tem medo de se abrir.
“Nova York não é o lugar mais relaxante do mundo, mas ao mesmo tempo é divertido. Nós estamos passeando por Williamsburg, perto de onde estamos ficando. Mesmo quando não tem nada acontecendo em Nova York parece que alguma coisa está acontecendo, sabe? É uma cidade muito ocupada,” diz Farro.
“Acho que se eu morasse em Nova York, eu iria morar aqui em Williamsburg. Porque eu visitei outra parte de Nova York na semana passada, na área de Manhattan, quando fiz um show com minha outra banda, e foi suuuper agitado. Muita gente em todos os cantos, é quase como que jogar dodgeball humano. Quando você tenta comprar um café você já se esbarra em turistas e famílias, é meio esmagador.”
É um depoimento de sua humildade que ele se refere à banda vencedora de Grammy, o Paramore, como “sua outra banda,” tendo retornado no início de 2017. Desde que se desligou da natureza agitada do mundo do Paramore, parece que o cérebro de Farro resetou e que agora ele voltou a ser um cara normal de 27 anos – que acontece de estar em turnê pelo mundo, mas mesmo assim.
A parte musical de seu cérebro resetou também. O HalfNoise não se parece nem um pouco com o Paramore – é uma junção de The Beach Boys e The Beatles, jangle pop com jaunty jazz, surf pop com Stones. Ele se inspira em músicas francesas antigas, fotografia, filmes artísticos. Ele citou algumas bandas da Austrália e da Nova Zelândia, como Tame Impala, Fazerdaze, POND, Gum, Connan Mockasin, The Babe Rainbow e King Gizzard & The Lizard Wizard sem nem hesitar, como se tivesse escutado essas bandas a vida inteira. Depois de tocar no Paramore e passar tanto tempo cercado de música pop, você se pergunta como foi que ele começou a expandir seus horizontes musicais.
“É uma boa pergunta, porque eu cresci NO Paramore, eu comecei a tocar com eles quando tinha 13 anos. Então era meio que minha vida. Então eu saí da banda e pensei, ‘Eu quero viajar um pouco’ e meio que vivi a vida fora do ônibus de turnê e da parte de trás das arenas. Eu meio que queria ver como a vida era. E enquanto eu fiz isso, eu escutei muitas músicas, mas, honestamente, foi quando eu me mudei para a Nova Zelândia que eu comecei a andar com amigos diferentes que gostavam muito da cena do surf dos anos 60, 70… eu fui muito influenciado por isso. Quando eu voltei para casa, eu comecei a devorar discos antigos dos Stones e dos Beatles, que nunca tinha ouvido antes,” ele lembra.
“Meu pai gostava de música country, James Taylor e Jackson Browne e coisas que eu amava mas nada com que eu me conectava. Mas então eu pensei, ‘oh, ISSO faz sentido para mim’, as coisas antigas dos Beatles, dos Stones, e a partir daí eu comecei a seguir por diferentes caminhos. Como o Afrobeat, pop francês dos anos 60… meio que abriu as portas para mim. Eu nem sei como isso aconteceu, mas foi meio que um efeito dominó.
Eu acho interessante – quando escuto que alguém de uma banda que eu conheço começou a fazer algo diferente… como o Julian Casablancas, ele tem o The Voidz, e é muito diferente do Strokes mas ainda tem uma vibe ali. O HalfNoise é muito diferente do Paramore.”
Ele diz que o novo EP do HalfNoise, Flowerss, é o mais próximo de si mesmo que ele já sentiu. E seu ânimo é palpável; parece quase que ele se descobriu em meio a um relacionamento tóxico que muda todos os dias, ao mesmo tempo em que se permitiu gostar disso.
“Sobre o Paramore, foi algo que aconteceu naturalmente. Eu estou muito feliz porque eu sinto que eles se elogiam muito. Quando eu toco com o Paramore, eu sinto que posso trazer uma vida diferente e coosas diferentes para a banda, mas eu também aprendi MUITO quando voltei para o Paramore. Você aprende muito na bateria e você aprende muito quando está na frente do palco, cantando. Mesmo que dê bastante trabalho, eu gosto do fato de que isso me desafia.
Eu amo tocar bateria, foi meu primeiro amor na música, quando eu tinha nove anos, então é o que eu conheço melhor. E o HalfNoise é essa coisa nova que eu menos conheço. Mas é divertido, aquele tempo longe da banda foi ótimo porque eu voltei e pude apreciar isso por um milhão de coisas diferentes. Nós tocamos grandes shows, temos um ônibus, e entramos em turnê de um jeito diferente do HalfNoise. Mas o que é legal é que todos os meus amigos do HalfNoise tocam com o Paramore, então é a mesma galera em todo lugar. Não parece ser tão diferente, nós só estamos tocando músicas diferentes, de certa forma. Mesmo que sejam estilos diferentes, é a mesma família,” ele diz com ternura. Ele está sentado perto da água e assistindo o pôr do sol nesse ponto, cercado por amigos de Nashville e seu amigo Gabriel, da França.
Farro se mudou para a Nova Zelândia assim que saiu do Paramore, quando tinha 21 ou 22 anos, e ele diz que voltou algumas vezes para lá nos anos seguintes.
“Eu morei em Whangaparaoa e em Ponsonby depois. Eu tenho alguns apartamentos lá. Eu amava aquele lugar, era muito legal. Eu tinha duas vidas diferentes na Nova Zelândia – uma com a família, eles criavam galinhas e moravam perto da praia, e outra na cidade, cafés em todo lugar, meio que o cenário de Melbourne,” ele lembra. “Eu passava o tempo todo lá! Eu quase me mudei de verdade, eu quase fiz residência, porque eu gostava demais. Eu pensava tipo, ‘Eu não sei se eu ainda quero fazer música, talvez eu deva conseguir um emprego aqui.’ Mas eu estou grato por ter tido essa experiência para trazer de volta comigo para Nashville.”
Musicalmente e pessoalmente, foi o ponto de virada que ele precisava para voltar para a música com uma mente nova e um novo espírito.
“Eu estava meio que descobrindo quem eu sou e quem eu era, e eu fiquei tipo, ‘Acho que talvez eu goste de escrever’. e a oportunidade de tentar criar o que eu quisesse sem a pressão de ‘essa música é para a rádio!’, digo, eu não precisava escrever por mais ninguém. Não que eu tivesse essa pressão antes, eu não escrevia para o Paramore antes; agora escrevo. Mas eu não tinha pressão alguma quando estava na Nova Zelândia – eu escrevia para me divertir, morava na praia. Eu escrevia uma música, ia correr na praia e depois voltava para ouvir, então era relaxante. Até mesmo com minhas fotografias – eu tiro fotos agora – eu tenho uma liberdade que… tipo, eu tinha uma voz na cabeça que me dizia ‘não é bom o suficiente, as fotos não são boas porque você não sabe lidar com câmeras’ e coisas assim, mas eu comprei um monte de câmeras em um passeio por LA e eu comecei a tirar fotos de todas as coisas aleatórias. E foi tipo, ‘isso até que é legal!’, e depois disso eu tive a liberdade de não me importar mais,” Farro admite.
“Eu acho que quando você pensa demais sobre alguma coisa, as pessoas percebem que não é genuíno. Para mim, pessoalmente, acho que isso é o encanto do HalfNoise, eu apenas me solto. Eu não penso em parecer legal ou em ter uma canção famosa, eu deixo tudo isso ir e penso ‘o que eu gosto de fazer? o que eu gostaria de ouvir?’ Se você não acredita nas suas próprias músicas, você vai enjoar delas rapidamente e eu estava nisso quando comecei a escrever. Ir para a Nova Zelândia me deu a liberdade de dizer ‘que se f*da, vamos nos divertir e ver no que dá.’ Quando voltei para a América, eu estava gostando de fazer isso, estava escrevendo o tempo todo pensando ‘Se eu não gostar disso, ninguém mais vai gostar ou acreditar nisso também.’
Quando os fãs chegam em mim nos shows e perguntam, ‘você pode me dar um conselho?’, eu sempre digo, faça algo porque VOCÊ gosta disso. Você tem que ter as intenções certas ou vai se decepcionar caso não aconteça como você espera. Se você está escrevendo para ganhar dinheiro ou fazer sucesso, as chances de que isso aconteça são baixas, e eu acho que isso gera expectativa, e não as coisas que você ama. Eu acho que você está fazendo um desserviço para si mesmo. Eu tento fazer isso com o HalfNoise.”
É gostoso ouvir como Farro está em paz consigo mesmo ultimamente. Como o resgate de uma parte de si mesmo que você nem sabia que existia, o HalfNoise trouxe uma maturidade para Farro que só vem quando você se afasta de algo que ama e a oportunidade reflete em alguma outra coisa, que você também ama.
“Às vezes eu conheço alguém que me reconhece e eles falam ‘eu AMAVA o Paramore quando era mais novo’, e assim, nós temos a mesma idade. Eu estava na banda que essa pessoa ouvia. É engraçado porque algumas das bandas que eu ouvia tinham minha idade de agora, quase 28, e eu estou em um lugar completamente diferente. Eu não sou da mesma idade mas às vezes tocava com eles, é meio estranho.
Eu sinto que vivi muitas vidas diferentes,” sorri Farro.
Confira fotos exclusivas dos estúdios de gravação compartilhadas por Zac com a RedBull: