Em recente entrevista à revista de negócios Fast Company, Hayley Williams explicou como o After Laughter se tornou um álbum político e com repercussão social, após ser considerado um dos melhores álbuns de 2017 pela crítica mundial.

Confira a matéria traduzida na íntegra abaixo:

“Até onde eu sei, o melhor já acabou e o pior ainda está por vir”, canta Hayley Williams, vocalista do Paramore, no primeiro verso de ‘Told You So’, um dos singles do aclamado álbum After Laughter, que foi citado em diversas listas dos melhores álbuns de 2017.

Apesar de ter escrito essa música (e a maioria das outras faixas dançantes do álbum) em 2016, a letra tem uma vibe de 2017, com um misto de melancolia e um sincero desejo por autoconhecimento. Para muitos de nós, o ano passado foi desanimador: com uma enxurrada de manchetes e opiniões de inúmeras pessoas nos atingindo em cheio com a força de um tsunami. Ao relembrar 2017 e seus atentados, agitações políticas e “fake news”, parece que estamos vagando em um vazio sem fim.

Foi um ano em que qualquer tipo de arte tinha o potencial de obter um significado político – mesmo se tratando de assuntos do coração. Williams, 28, vivenciou isso em primeira mão enquanto escrevia o After Laughter. “Nós nunca fomos uma banda política… Nós não somos o Pussy Riot e eu sei disso”, ela diz durante entrevista com a Fast Company. “Eu não acho que a gente seja o Green Day. Nós realmente gostamos de falar sobre assuntos emocionais profundos e coisas que as pessoas enfrentam em silêncio ou sozinhas”.

Mas, em 2017, as reflexões sobre perdas e ansiedade também refletiram as perdas e ansiedades de um país liderado por um presidente que ameaça guerra nuclear em surtos com 280 caracteres. Foi assim que o Paramore se viu escrevendo o álbum mais político da sua carreira.

Versos do álbum como “a realidade vai partir seu coração/Sobreviver não vai ser a parte mais difícil/É manter as suas esperanças vivas” falam diretamente com o massacre de manchetes que trazem notícias que parecem cada vez piores que as anteriores.

Enquanto isso, em ‘Rose-Colored Boy’, Hayley canta sobre um amigo que alega ser otimista sobre mudanças no mundo, mas que ela simplesmente não está na mesma vibe. “As guerras estão crescendo/E eu deixei o meu otimismo de lado”, ela proclama. “Você diz que a gente tem que olhar o lado bom/Eu digo ‘Bom, talvez se você quer ficar cego”. Ela está falando sobre uma tensão entre aqueles que são impactados diretamente por certas decisões políticas (especialmente mulheres e negros) e aqueles que estão felizes com as coisas do jeito que estão, ou que têm esperança em mudanças positivas. (Ainda é incerto se o rose-colored boy quer “fazer a América grande de novo” ou defender as reformas por justiça social). Aqui, Williams focou em um episódio específico e generalizou para ressaltar como relacionamentos funcionam quando existe um conflito de ideologias.

Apesar de Williams não ter tido a intenção de escrever um álbum político, isso era praticamente inevitável no contexto em que vivemos hoje em dia – e o After Laughter demonstra o quanto ansiedades pessoais e políticas estavam interligadas em 2017 (e provavelmente continuarão assim em um futuro próximo). “Eu acho que esse foi o ano em que eu tive que parar de me enganar e achar que eu estava isenta de me irritar com a política”, ela diz.

Hayley Williams cresceu no Mississippi e no Tennessee e vivenciou uma divisão política dentro de casa, causada por homens que eram agressivos sobre suas crenças e causavam conflitos com outros membros da família. “Política era um assunto muito, muito horrível quando eu era criança”, ela conta. “Eu lembro que era sempre no natal que eu odiava quando eles começavam a falar sobre política. Minha mãe não falava, mas os homens ao meu redor sim. E eu nem tinha idade suficiente para entender o que eles estavam falando, mas eu sentia que era hostil”.

Para Williams, 2016 e 2017 também foram anos de batalhas pessoais e autoconhecimento. Ela e o marido Chad Gilbert anunciaram sua separação em julho. Enquanto isso, Paramore enfrentava conflitos publicamente com ex-integrantes da banda – Josh Farro, um dos membros originais, deu uma entrevista em 2016 relatando as tensões internas da banda. “Eu estava passando pela minha própria tempestade pessoal, em casa, no meu relacionamento e nas minhas amizades também”, ela relata. “E me perguntando o que eu queria fazer da minha vida em geral, e se eu gostaria de ter uma plataforma, de estar em uma banda e fazer música”.

Esses momentos se transformaram nas raízes das canções que iriam estar em sintonia com os ouvintes de uma forma geral. “Todos nós estávamos passando por experiências pessoais, mas ainda assim as pessoas conseguiam se identificar [com elas]”, ela diz. “Paramore foi capaz de falar sobre saúde mental, política e amor de uma forma abrangente que foi mais universal”.

Porém, refletindo sobre o ano, ela reconhece que a linha que separa o lado político do pessoal está cada vez mais tênue. E é por isso que o After Laughter acerta em cheio com versos como, “Tudo que eu quero é um buraco no chão/Você pode me avisar quando estiver tudo bem para eu sair”. Apesar de não estar se referindo diretamente aos líderes políticos, esse sentimento de querer se esconder até tudo acabar é muito real, especialmente se você estiver lidando com mágoas pessoais em um tempo de agitações políticas.

“Eu tenho a impressão que você pode escrever uma música que tenha sido inspirada pelas coisas que nós estamos passando tanto como país, quanto como pessoas e escrever tudo da mesma perspectiva”, Williams reflete. “Você pode escrever sobre isso sem que seja eu falando sobre o presidente”.

Essas descobertas fizeram com que Williams desenvolvesse um senso de responsabilidade em relação ao que as músicas do Paramore falam e como ela pode utilizar a sua plataforma. Ela diz que “acha que nunca irá escrever um hino político”, mas no After Laughter ela redefiniu o significado de hino político. As músicas que ela compõe não têm a força de enfrentamento do punk, mas te atingem como um tiro no coração.

“Tem sido muito interessante ver as pessoas associarem nosso disco ao ano que elas tiveram, especialmente por conta do clima político e das questões sociais que estamos vivendo e a ansiedade que isso causa nas pessoas mais jovens e nas minorias”, Williams diz. “Eu acho que nenhum de nós, como artistas, estamos isentos do peso que foi colocado nas nossas costas e da responsabilidade que nos foi dada para nos ajudar a seguir em frente e criar mudanças positivas.”

“Eu acho que isso vai acabar demonstrado o impacto psicológico das coisas que nós falamos”, ela reflete. “E eu acho que isso é importante também”.

Paramore Brasil | Informação em primeira mão
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