Que a trajetória do Paramore é emocionante nós já sabemos. A banda já conquistou um Grammy, emplacou álbuns no topo das paradas da Billboard, atravessou o oceano duas vezes com seus fãs mais fiéis e, mais recentemente, foi considerada uma das bandas mais importantes para a conscientização sobre saúde mental com o lançamento do álbum ‘After Laughter’.

A história da banda é tão recheada de acontecimentos marcantes que o site NPR publicou uma intensa matéria sobre toda a carreira da banda formada por Hayley Williams, Taylor York e Zac Farro. Confira a publicação na íntegra!

O que mantém o Paramore unido? A carreira de dezenas de anos da banda querida do Tennessee está cheia de falsos começos e sucessos trabalhosos: mais integrantes deixaram a banda do que permaneceram nela, e aqueles que partiram fizeram isso de um modo caótico. As amizades ao longo da vida acabaram mantendo essa máquina viva, e ainda sim, seus membros restantes agora se acharam em um lugar de reinvenção crítica. Sendo forçados a reavaliar constantemente com o que o Paramore se parece, isso mostra ter-los tornado indestrutíveis: quando parecia que não tinham nada a perder, eles tornaram-se novos. Em 2017, Paramore é uma banda pop, de longe fora dos dias emos que os criaram. Eles são uma banda pop que sobrevivem e prosperam, e foi uma jornada e tanto para chegarem até aqui.

Ao fim de 2010, após os irmãos membros e fundadores Josh e Zac Farro deixarem o grupo, Josh detalhou as razões de sua saída em seu Blogger. Ele referiu ao projeto pop-punk como ‘’um produto criado de com grande rótulo”, quebrando então uma compreensão confusa de sua dinâmica: a vocalista Hayley Williams era (e ainda é) a única integrante do Paramore com contrato assinado à Atlantic Records, no qual ele acreditava que ela era tratada por um rótulo como parte de um projeto solo com alguns capachos contratados. Os membros que restaram no grupo – Williams, o guitarrista Taylor York e o baixista Jeremy Davis – responderam à colocação [de Josh] em um especial da MTV, Paramore: The Final World, confirmando essencialmente a maioria do que Josh disse, deixando irrelevantes suas colocações mais irônicas e revelando que a banda seguiria em frente sem os Farros.

O último álbum com a line-up mais familiar do Paramore, o Brand New Eyes de 2009, seria seu último álbum diretamente pop-punk, e por uma boa razão – sua qualidade, a maior forma de investimento na Warped Tour, estava sendo questionada, e rumores do rompimento da banda eram abundantes. Enquanto Williams e os membros restantes passavam a maior parte do tempo mencionando o “Brand New Eyes” como o álbum que trouxe a banda mais perto do que nunca, esse álbum quase os separarou. De várias formas, foi a coisa mais libertadora que poderia ter acontecido com eles por causa do que veio acontecer a seguir.

Em Brand New Eyes, o Paramore trabalhou com o produtor Rob Carvalho, um notável músico mais conhecido por seu trabalho em My Chemical Romance e Green Day. Mas em 2013, Paramore trouxe o produtor Justin Meldal-Johnsen (Nine Inch Nails, M83) para gravar seu álbum auto-intitulado. Meldal-Johnsen prometeu uma mudança, que foi possível, talvez, graças ao papel mais explorado de Taylor York. Enquanto Josh Farro tinha produzido muitas das composições do Paramore no passado, sua ausência permitiu que Taylor York assumisse um papel criativo mais proeminente. O resultado foi um álbum no qual a banda se apelidou de ‘’gênero neutro”, uma surpreendente inclusão ao moderno e direto território do pop, que funcionou para livrá-los do classificador de quatro letras.
O single mais notável do álbum, “Ain’t it Fun’’, apresentou alguns experimentos de York, um tom de marimba que fez a canção mais memorável. Williams ficou intrigada pela emotividade de York e começou a explorar os próprios limites também: um coral gospel foi adicionado ao refrão da música, um aceno original, a fé pessoal dos integrantes da banda e as raízes do grupo à Tennessee. “Ain’t it Fun” destacou-se entre os outros singles do álbum em seu único som e estrutura, e ganhou ao Paramore um Grammy para Melhor Canção de Rock.

Historicamente, o peso colocado em um álbum auto-intitulado sugere que é o trabalho definitivo de uma banda, mas [o álbum] “Paramore” é um álbum de transição. Os movimentos do pop foram o que fizeram da banda a melhor, mas até mesmo esses experimentos foram pontuados por cordas silenciosas de poder, as redes de salvação auto-impostas pelo pop-punk. Mas isso permitiu que eles reconhecessem o limite para citar ou não citar a música emo, e enquanto fizeram isso, a banda começou a evoluir muito além. After Laughter, o quinto álbum de estúdio da banda, lançado no dia 12 de maio, é o primeiro trabalho declaradamente mais pop.

Mas antes que pudessem chegar lá, houve mais turbulência. O baixista Jeremy Davis deixou a banda alguns meses antes da gravação. Sua partida instigaria uma batalha judicial para determinar se ele era um contratado da banda ou parceiro em seus negócios – notícias que interessaram os fãs do Paramore em todo o mundo por sua familiaridade. O problema foi resolvido logo após, em termos não divulgados, mas algo meio milagroso aconteceu durante o caminho: o baterista original do Paramore, Zac Farro, juntou-se ao grupo novamente após uma revelação engenhosa nas redes sociais – as camisetas de edições limitadas chamadas de “I’m Back”. Farro retornou apenas para a gravação do álbum, mais tarde Taylor perguntou se ele queria se juntar à banda definitivamente. Se houve algum momento de retorno às raízes, foi em After Laughter – e isso quase não aconteceu.

Em um especial de uma hora com Zane Lowe para a Apple Music, a primeira entrevista da banda antes do lançamento do álbum, Williams revelou que o Paramore esteve na beira do colapso em 2016. As batalhas judiciais que estavam acontecendo, as mudanças sequentes na formação [da banda] e as amizades fraturadas poderiam ter feito parecer que o fim estava perto, e recentemente uma separação [da banda] quase aconteceu – porquê dessa vez, Hayley queria sair. “Eu estava mais pra lá do que pra cá,” ela revelou à Lowe, “Eu acho que se não fosse por Taylor, a banda teria terminado. Estou cansada de perder amigos; estou cansada de duvidar de mim mesma. Talvez se eu não tivesse fazendo isso tudo, não teria nada para duvidar. Meu coração está cansado.” York sabia que ela estava lutando contra demônios maiores do que ela lutou no passado, e pôde compreender. “Houve tantas vezes que eu só queria sair dessa banda”, ela explicou “Era tudo o que eu podia falar.” De muitas maneiras, After Laughter não é um álbum que existe porque teria que existir, mas porque eles lutaram por isso. E deixaram isso bem claro desde o início.
Quando o álbum começa a tocar, podemos ver um brilho que engana. O sintetizador afro-pop do single “Hard Times” convida o ouvinte a entrar, apenas para romper com a dura realidade: “All that I want / is to wake up fine / Tell me that I’m alright / that I ain’t gonna die.” [Tudo o que eu quero / é acordar bem / diga-me que está tudo bem / que eu não irei morrer]. Nas composições, Paramore sempre foi uma banda bem transparente, e enquanto o título da música pode refletir um clima político não promissor, ele reflete diretamente o relacionamento de Williams com sua saúde mental. Na entrevista da Apple Music, ela revelou que sofreu recentemente de ansiedade e depressão pela primeira vez em sua vida. Ela estabeleceu uma linha do tempo, observando exatamente quão recente suas batalhas foram: “Três anos atrás? Não. Eu não sei o que aconteceu […] isso me deu muita compaixão que eu não tinha antes.”

Paramore nunca foi uma banda desafiadora para ouvir, e com os novos esforços sonoros na acessibilidade extrema do pop, Williams, York e Farro entraram em um território pessoal e ficam totalmente expostos. Pela primeira vez, a dor de Williams aparece com uma clareza frustrante, dando-nos um nível quase incomodo de admissão. [Isto] está em todas músicas – até mesmo nas canções de amor – mas principalmente nas baladas do After Laughter. Em “26”, bem no meio do álbum, ela canta “Reality will break your heart / Survival will not be the hardest part / It’s keeping all your hopes alive / When the rest of you has died” [A realidade quebrará seu coração / Sobreviver não será a parte mais difícil / É manter todas as suas esperanças vivas / Quando todo o resto de você está morto]. Essa [música] é prosseguida por Fake Happy, música que afirma diretamente uma desesperança coletiva com “We’re all so fake happy / And I know fake happy” [Estamos todos tão falsamente felizes / E eu sei como é ser feliz de mentira], complicando mais tarde a emoção com o constrangimento que muitas vezes não é explorado no diálogo da depressão, e a vergonha de se sentir mal por estar mal: “Don’t ask me how I’ve been / Don’t make me play pretend.” [Não me pergunte como estou / Não me faça fingir]. Ela menciona a palavra “cry” nove vezes no álbum. Alusões à morte e de estar morrendo aparecem em três faixas diferentes, as que possuem ritmos mais contagiantes. “Caught in the Middle”, onde Williams começa com “I can’t think of getting old / It only makes me want to die.” [Não consigo pensar em envelhecer / Isto apenas me faz querer morrer]. Com alguma séria ironia, a banda já não faz mais música pop-punk, mas ainda se engaja com alguns dos temas em suas composições que ficaram comuns no gênero – mas com uma maturidade distinta. A ansiedade de Williams vem de um lugar interno – ela já não culpa as forças externas por sua infelicidade.

After Laughter é criado na base de “Ain’t it Fun”, em novos territórios do pop. Os singles “Hard Times” e “Told You So” foram baseados na admiração [da banda] por Talking Heads, “Forgiveness” é a retirada do rock calmo e badalado de Haim, “Rose-Colored Boy” agarra uma pegada sintética de um som contemporâneo dos anos 80, em direção a algo que Sky Ferreira ou Carly Jepsen poderiam pegar para explorar. Ao contrário do álbum auto-intitulado, não há sérios momentos de pop-punk no After Laughter – o refrão de “Grudges” talvez seja o mais similar, uma jogada brilhante considerando o significado da música. É uma doce reflexão na amizade consertada com ambos os irmãos Farros. Zac até harmoniza na canção.

“Idle Worship” começa com um assombroso sintonizador de Ariel Pink gravado sobre a mixagem, repetido para dar um efeito de audição – seu ouvido é atraído pelos vocais contorcidos de Williams. Ao fim de cada verso, [seu vocal] acelera em um tom mais solene: “You’re not the one who’s hopeless” [Você não é o único sem esperança] e “There’s not a single person here’s who’s worthy” [Não há uma única pessoa aqui que vale a pena]. Ela começa a quarta parte [da música] nos exigindo que não coloquemos nossa fé sobre ela, enquanto sua voz soa como se não fosse dela. É a maneira perfeita para dar início ao último capítulo do álbum, onde Paramore revela um verdadeiro conforto de um experimento. “No Friend” é um interlúdio de estilo pós-hardcore com vocais de palavras faladas, cortesia de Aaron Weiss, da banda de rock/emo MeWithoutYou. As palavras de Weiss são quase indiscerníveis, mas uma folha com as letras revela referências a singles anteriores do Paramore distorcidos. O clima se dissipa, dando espaço para a próxima faixa do ábum, “Tell Me How”, uma exploração suave de R&B disfarçada como uma balada de piano. É fácil imaginar alguém como Drake ou The Weeknd tentando reproduzi-la.

After Laughter é um álbum de revelações, um [álbum] que assistiu a queda da banda e conseguiu criar algo novo a partir do que eles já tinham construído – na atual formação do Paramore, York tenta experimentar o pop dos anos 80, Williams performa em composições vulneráveis, Farro, volta a ser familiar e reinventa o ritmo. Este é um álbum criado próximo da sensação de morte, é um álbum que existe entre a perda e o estágio à frente disso. É um álbum pop tumultuado. O primeiro álbum declaradamente pop do Paramore. Ficamos esperançosos por muitos outros.

Paramore Brasil | Informação em primeira mão
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3 Replies to “National Public Radio classifica ‘After Laughter’ como obra memorável, construída com partes do passado”

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